Conte outra Vez...
Augusta Schimidt
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A Bela e a Fera
Por que contar historia?
1. As histórias formam o gosto pela leitura - Quando a criança aprende a gostar de ouvir historias contadas ou lidas, ela adquire o impulso inicial que mais tarde a atrairá para a leitura.
2. As histórias são um poderoso recurso de estimulação do desenvolvimento psicológico e moral que pode ser utilizado como recurso auxiliar da manutenção da saúde mental do indivíduo em crescimento.
3. As histórias instruem e ao enriquecer o vocabulário infantil, amplia seu mundo de idéias e conhecimentos e desenvolve a linguagem e o pensamento.
4. As histórias educam e estimulam o desenvolvimento da atenção, da imaginação, observação, memória, reflexão e linguagem.
5. As histórias cultivam a sensibilidade, e isso significa educar o espírito. A literatura e os contos de fadas dirigem a criança para a descoberta de sua identidade e comunicação e também sugerem as experiências que são necessárias para desenvolver ainda mais o seu caráter.
6. As histórias facilitam a adaptação da criança ao meio ambiente, pela incorporação de valores sociais e morais que ela capta da vida de seus personagens.
7. As histórias recreiam, distraem, descarregam as tensões, aliviam sobrecargas emocionais e auxiliam, muitas vezes, a resolver conflitos emocionais próprios.
É necessário fazer uma seleção inicial, levando em conta, entre outros fatores o ponto de vista literário, o interesse do ouvinte, sua faixa etária, suas condições sócio-econômicas.
A história é o mesmo que um quadro artístico ou uma bonita peça musical: não poderemos descrevê-los ou executá-los bem se não os apreciarmos. Se a história não nos desperta a sensibilidade, emoção, não iremos contá-las com sucesso. Primeiro, é preciso gostar dela, compreendê-la, para transmitir tudo isso ao ouvinte.
A história é o mesmo que um quadro artístico ou uma bonita peça musical: não poderemos descrevê-los ou executá-los bem se não os apreciarmos. Se a história não nos desperta a sensibilidade, emoção, não iremos contá-las com sucesso. Primeiro, é preciso gostar dela, compreendê-la, para transmitir tudo isso ao ouvinte.
Faixa-etária e interesses
Até 3 anos: Fase pré-mágica
História de bichinhos, brinquedos, objetos, seres da natureza (humanizados) histórias de crianças.
As histórias devem ter enredos simples e atraentes, contendo situações que se aproximem o mais possível da vida da criança.
3 a 6 anos: Fase mágica
Histórias de repetição e acumulativas "Dona baratinha, A formiguinha...", histórias de fadas, histórias de crianças, animais e encantamentos.
Nesta fase, os pequenos solicitam varias vezes a mesma história e a escutam sempre com encanto e interesse. É a fase do "conte outra vez”.
7 a 9 anos:
Trabalho com figuras de linguagem que explorem o som das palavras. Estruturas frasais mais simples sem longas construções. Ampliação das temáticas com personagens inseridas na coletividade, favorecendo a socialização, sobretudo na escola.
Ilustração deve integrar-se ao texto a fim de instigar o interesse pela leitura. Uso de letras ilustradas, palavras com estrutura dimensiva diferenciada e explorando caráter pictórico.
Excelente momento para inserir poesia, pois brinca com palavras, sílabas, sons. Apoio de instrumentos musicais ou outros objetos que produzam sons. Materiais como massinha, tintas, lápis de cor ou cera podem ser usados para ilustrar textos
Até 3 anos: Fase pré-mágica
História de bichinhos, brinquedos, objetos, seres da natureza (humanizados) histórias de crianças.
As histórias devem ter enredos simples e atraentes, contendo situações que se aproximem o mais possível da vida da criança.
3 a 6 anos: Fase mágica
Histórias de repetição e acumulativas "Dona baratinha, A formiguinha...", histórias de fadas, histórias de crianças, animais e encantamentos.
Nesta fase, os pequenos solicitam varias vezes a mesma história e a escutam sempre com encanto e interesse. É a fase do "conte outra vez”.
7 a 9 anos:
Trabalho com figuras de linguagem que explorem o som das palavras. Estruturas frasais mais simples sem longas construções. Ampliação das temáticas com personagens inseridas na coletividade, favorecendo a socialização, sobretudo na escola.
Ilustração deve integrar-se ao texto a fim de instigar o interesse pela leitura. Uso de letras ilustradas, palavras com estrutura dimensiva diferenciada e explorando caráter pictórico.
Excelente momento para inserir poesia, pois brinca com palavras, sílabas, sons. Apoio de instrumentos musicais ou outros objetos que produzam sons. Materiais como massinha, tintas, lápis de cor ou cera podem ser usados para ilustrar textos
Segundo a lenda grega, Prometeu criou o homem de argila e roubou a chama sagrada de Hélio (Deus Sol) para dar-lhe o sopro da vida. O intuito era criar um ser que ajudaria a cuidar de sua mãe Gáia (Terra). O homem, porém, também era imortal e assexuado, reproduzindo-se de forma rápida. Por ordem de Zeus, Prometeu foi preso e condenado a ficar acorrentado no alto de uma montanha, aonde todos os dias um corvo gigante vem comer-lhe as vísceras que são regeneradas à noite, ficando fadado a sentir dores por toda eternidade. Antes, porém, ele deixou uma caixa contendo todos os males que poderiam atormentar o homem com seu irmão Epimeteu, pedindo-lhe que não deixasse ninguém se aproximar dela. Os homens começaram a devastar a Terra e, a fim de castigá-los, os deuses reuniram-se e criaram a primeira mulher, a qual foi batizada como Pandora e incumbida de seduzir Epimeteu e abrir a caixa. Naquela época os deuses ainda não moravam no Olimpo mas em cavernas. Epimeteu colocara duas gaiolas com gralhas no fundo da caverna e a caixa entre elas.
Caso alguém se aproximasse, as gralhas fariam um barulho insuportável, alertando Epimeteu. Seduzindo-o, Pandora conseguiu convencê-lo a tirar as gralhas da caverna sob o pretexto de que tinha medo delas. Após terem se amado, Epimeteu caiu em sono profundo. Pandora foi até a caixa e a abriu: uma enormidade de males tais como mentira, doenças, inveja, velhice, guerra e morte saíram da caixa de forma tão assustadora que ela teve medo e fechou antes que saísse a última delas: o mal que acaba com a esperança.
Sugestão: Dramatizar a historia
Caso alguém se aproximasse, as gralhas fariam um barulho insuportável, alertando Epimeteu. Seduzindo-o, Pandora conseguiu convencê-lo a tirar as gralhas da caverna sob o pretexto de que tinha medo delas. Após terem se amado, Epimeteu caiu em sono profundo. Pandora foi até a caixa e a abriu: uma enormidade de males tais como mentira, doenças, inveja, velhice, guerra e morte saíram da caixa de forma tão assustadora que ela teve medo e fechou antes que saísse a última delas: o mal que acaba com a esperança.
Sugestão: Dramatizar a historia
Objetivo Especifico desta Oficina:
Capacitar os participantes para o trabalho de sensibilização da leitura, fazendo-os vivenciarem os textos de uma maneira ativa, com real compreensão deles (prática de contar histórias);
Resgatar nos participantes o gosto pela prática da leitura descontraída, priorizando o enredo;
Resgatar nos participantes a memória de conhecimentos literários pré-concebidos e estimulá-los a trabalharem estes textos, sejam eles de que ordem forem (poesia, narração, crônica, diálogo, etc.), dentro e fora da sala de aula;
Capacitar os participantes para compartilharem com colegas de todas as áreas do saber, buscando a multidisciplinaridade como forma de enriquecer e globalizar os conhecimentos;
Com a prática de memorização com compreensão, reedificar a auto-estima, a cidadania, fazendo com que esses participantes se sintam capacitados e conscientes do uso da palavra;
Semear o resgate da oralidade poética como prática educativa;
Fazer os participantes descobrir o talento que têm para se comunicarem através da palavra;
Levar os professores a fazerem com que as crianças, através de sua história particular, seus mitos, seu estilo sejam produtores de literatura;
Viabilizar uma referência para os novos “produtores de texto”, que, dentro da escola se encontram perdidos na pesada obrigação “da redação”;
Fazer com que os professores desenvolvam nas crianças o Desejo de Ler, o prazer de conhecer, de usar a imaginação e de se transportar no tempo e para os fatos;
Capacitar os participantes para o trabalho de sensibilização da leitura, fazendo-os vivenciarem os textos de uma maneira ativa, com real compreensão deles (prática de contar histórias);
Resgatar nos participantes o gosto pela prática da leitura descontraída, priorizando o enredo;
Resgatar nos participantes a memória de conhecimentos literários pré-concebidos e estimulá-los a trabalharem estes textos, sejam eles de que ordem forem (poesia, narração, crônica, diálogo, etc.), dentro e fora da sala de aula;
Capacitar os participantes para compartilharem com colegas de todas as áreas do saber, buscando a multidisciplinaridade como forma de enriquecer e globalizar os conhecimentos;
Com a prática de memorização com compreensão, reedificar a auto-estima, a cidadania, fazendo com que esses participantes se sintam capacitados e conscientes do uso da palavra;
Semear o resgate da oralidade poética como prática educativa;
Fazer os participantes descobrir o talento que têm para se comunicarem através da palavra;
Levar os professores a fazerem com que as crianças, através de sua história particular, seus mitos, seu estilo sejam produtores de literatura;
Viabilizar uma referência para os novos “produtores de texto”, que, dentro da escola se encontram perdidos na pesada obrigação “da redação”;
Fazer com que os professores desenvolvam nas crianças o Desejo de Ler, o prazer de conhecer, de usar a imaginação e de se transportar no tempo e para os fatos;
Conteúdo:
1. Interagindo com os contos de fadas
2. Releitura de obras de arte
3. Poesias
4. Letrando através da comunicação (Jornal)
A oficina será organizada em torno de uma temática, a partir da qual serão selecionados os recursos mais adequados (textos, filmes, músicas, etc.).
Na sessão de escrita os alunos praticam a escrita de textos livres, vivenciando todas as etapas da produção textual – ensaio, esboço, revisão e edição. Utilizam-se técnicas de escrita criativa, como exercício de aquecimento de escrita, escrita rápida e outras que ajudam a desbloquear a escrita. Cada aluno lê seu texto para os demais (em pequenos grupos) e estes “respondem” à escrita com suas impressões e questionamentos. Objetiva-se também o desenvolvimento de uma “consciência de audiência”.
Poderão, ainda, produzir uma coletânea de contos de fadas recontados pela turma, em que poderão ser desenvolvidas as seguintes atividades:
1. Produzir uma coletânea de contos reescritos a partir da visão de um dos personagens da narrativa;
2. Produzir fábulas a respeito de preocupações mais atuais das pessoas ou fábulas humorísticas;
3. Produzir um capítulo a mais, a ser inserido em um determinado conto de aventuras lido pela turma ou escolhido pelo aluno.
1. Interagindo com os contos de fadas
2. Releitura de obras de arte
3. Poesias
4. Letrando através da comunicação (Jornal)
A oficina será organizada em torno de uma temática, a partir da qual serão selecionados os recursos mais adequados (textos, filmes, músicas, etc.).
Na sessão de escrita os alunos praticam a escrita de textos livres, vivenciando todas as etapas da produção textual – ensaio, esboço, revisão e edição. Utilizam-se técnicas de escrita criativa, como exercício de aquecimento de escrita, escrita rápida e outras que ajudam a desbloquear a escrita. Cada aluno lê seu texto para os demais (em pequenos grupos) e estes “respondem” à escrita com suas impressões e questionamentos. Objetiva-se também o desenvolvimento de uma “consciência de audiência”.
Poderão, ainda, produzir uma coletânea de contos de fadas recontados pela turma, em que poderão ser desenvolvidas as seguintes atividades:
1. Produzir uma coletânea de contos reescritos a partir da visão de um dos personagens da narrativa;
2. Produzir fábulas a respeito de preocupações mais atuais das pessoas ou fábulas humorísticas;
3. Produzir um capítulo a mais, a ser inserido em um determinado conto de aventuras lido pela turma ou escolhido pelo aluno.
Atividades de leitura e escrita:
. Produzir um jornal mural temático;
.Produzir uma coletânea dos melhores contos de ficção científica (ou outro gênero) escolhidos pela turma;
.Produzir uma coletânea das diversas versões já produzidas sobre determinado conto de fadas (ou outro gênero);
.Organizar um sarau literário sobre a obra de determinado autor;
.Gravar um vídeo em que sejam lidos contos ou poemas;
.Produzir um suplemento de resenhas críticas;
.Produzir um fichário de resenhas das obras que constam da biblioteca e que foram lidos pela turma;
.Organizar um jornal mural em que se elaborem comentários críticos sobre as principais polêmicas do mês;
.Organizar uma coletânea de textos da turma, distribuída, no final da oficina, para cada participante.
. Produzir um jornal mural temático;
.Produzir uma coletânea dos melhores contos de ficção científica (ou outro gênero) escolhidos pela turma;
.Produzir uma coletânea das diversas versões já produzidas sobre determinado conto de fadas (ou outro gênero);
.Organizar um sarau literário sobre a obra de determinado autor;
.Gravar um vídeo em que sejam lidos contos ou poemas;
.Produzir um suplemento de resenhas críticas;
.Produzir um fichário de resenhas das obras que constam da biblioteca e que foram lidos pela turma;
.Organizar um jornal mural em que se elaborem comentários críticos sobre as principais polêmicas do mês;
.Organizar uma coletânea de textos da turma, distribuída, no final da oficina, para cada participante.
Atividades de linguagem oral:
Organizar e participar de um debate sobre determinado tema de relevância social (como preconceito racial, internacionalização da Amazônia, trabalho infantil, entre outros).
Organizar e participar de um debate sobre determinado tema de relevância social (como preconceito racial, internacionalização da Amazônia, trabalho infantil, entre outros).
Cronograma das Atividades:
Leitura de várias obras
Contação de histórias;
Exibição de filmes;
Releitura de várias obras de autores diversos;
Produção, reprodução e interpretação de textos diversos;
Interpretação de textos através de desenhos;
Dramatização;
Jogral;
Mural;
Entrevistas
Leitura de várias obras
Contação de histórias;
Exibição de filmes;
Releitura de várias obras de autores diversos;
Produção, reprodução e interpretação de textos diversos;
Interpretação de textos através de desenhos;
Dramatização;
Jogral;
Mural;
Entrevistas
Um Historia pra cada semana do ano
Chapeuzinho Vermelho recontada por Augusta Schimidt
Bem no meio da floresta, numa linda casinha branca com florzinhas na janela, vivia Chapeuzinho Vermelho com sua mãe.
Certo dia, depois de colher muitas frutas ao redor de sua casa, Chapeuzinho enfeitou uma cesta, amarrou com um laço de fita vermelha a alça de palha e pediu a sua mãe que a deixasse levar alguns doces e frutas para sua avozinha que andava doente.
Depois de muita recomendação, Chapeuzinho saiu feliz cantando uma linda canção.
O caminho era complicado, havia curvas e atalhos pra todo lado.
Lembrando-se das recomendações da mamãe, a menina que era obediente e cuidadosa, escolheu o caminho das rosas, pois era mais curto.
De repente ouve uma voz...
_ Onde vai com tanta pressa, vai haver alguma festa? Vejo esta cesta enfeitada e a menina apressada!
_ Vou à casa da vovó, levar estes doces e frutas, ela está doente e vive muito sozinha! Mas quem é você? Por que não posso lhe ver?
_ Sou um amigo e quero lhe dar um conselho. Tenha cuidado! O lobo mau anda por estes lados
_ Obrigada amigo, vou correndo e com cuidado!
E o lobo que era esperto pegou o caminho mais perto chegando primeiro na casa da vovozinha.
Bateu à porta já cheio de más intenções, mas foi tão bem recebido que logo o remorso lhe corroeu o coração.
Sentaram-se os dois na varanda esperando por Chapeuzinho e num papo animado nem se deram conta dos caçadores que se aproximaram da casa e já prontos para abater o lobo.
_ Não façam isto, caçadores, então não estão vendo que o lobo é nosso amigo? Disse a vovó com certeza de não correr nenhum perigo.
_ Venham, juntem-se a nós e vamos esperar minha netinha que logo chega. Tomaremos um lanche gostoso e depois vocês podem seguir caminho.
Os caçadores desconfiados se acomodaram na varanda e logo que viram a menina chegando ficaram espertos, pois achavam que o lobo fingia.
Qual não foi a surpresa de todos quando logo após o lanche, o lobo pede a palavra e dirigindo-se a todos dá seu recado emocionado:
_ Gente querida, nunca deixem de sonhar. Sonhar faz parte da vida e a esperança nos ajuda a lutar. Acreditem nos seus sonhos, tenham esperança e aprendam, nunca julguem pelas aparências, pois podem se enganar.
E quanto mais o lobo falava, todos iam entendendo que apesar das diferenças, pode existir o amor, o carinho, a união.
Foi uma tarde agradável e vejam só que situação... A volta de Chapeuzinho pra casa foi mesmo uma grande surpresa, pois ao contrario do que pensavam o lobo que de mau não tinha nada, a levou montada em suas costas provando que o respeito é o maior aliado da Paz e da União.
Cachinhos Dourados e os 3 ursos recontada por Augusta Schimidt
Muito longe daqui, num lugar encantado, vivia uma linda camponesa de cabelos loiros e cacheados. Seu nome era Cachinhos Dourados.
Certa manhã de primavera, Cachinhos Dourados resolveu passear pela floresta.
Distraída, pulando e cantando alegremente, nem se deu conta de haver entrado por um caminho desconhecido.
Do outro lado, numa linda casinha, uma família de ursos se preparava para comer. Mamãe ursa de panelão na mão, colocava nas tigelas o mingau que acabara de fazer.
Pela arrumação da mesa, percebia-se que a família era muito organizada, pois a tigela grandona era do papai urso, a média da mamãe ursa e a pequena do bebe urso. Tudo nos seus devidos lugares.
Como o mingau estava fervendo, a família saiu a passear enquanto esperava o mingau esfriar.
Enquanto isso...
_ Que casinha mais linda! Quem será que mora aqui?
Cachinhos Dourados deu de cara com a casa dos três ursos e curiosa que era espiou pela janela.
Não vendo ninguém ali, abriu a porta e pé ante pé foi entrando e era grande o seu espanto diante de tudo que via.
Ali era tudo certinho e bem arrumado. O prato grandão do papai urso, o prato médio da mamãe urso e o pratinho do bebe urso. As colheres também correspondiam ao tamanho da família.
O cheiro estava bom e a menina com fome, provou um tantinho de cada prato, mas como a fome apertava sentada na cadeirinha do ursinho não resistiu e comeu todo o mingau de sua tigela. Cansada e com sono foi ao quarto e não menos espantada viu ali as camas muito limpas e bem arrumadas de cada um da família. Sentou-se na cama grande do papai urso, depois na cama média da mamãe ursa e finalmente deitou-se na caminha do bebe urso e adormeceu.
Quando a família chegou a casa, assustados e percebendo que alguém esteve ali, logo correram ao quarto e viram com muito medo a menina dormindo.
Quando o bebe urso viu que haviam comido todo seu mingau começou a chorar com tal força que seus berros fizeram Cachinhos Dourados acordar. Levou o maior susto, saiu correndo, passou pelos ursos feito um raio e acabou por derrubar o balde de água que estava bem no meio do caminho. Foi a maior confusão... Acontece que a família, era da paz, era do bem, então acalmaram a menina e rindo muito do ocorrido se despediram com um largo sorriso.
Cachinhos Dourados voltou para casa feliz por ter feito novos amigos e com a certeza de que ganhou mais juízo, pois nunca mais ia entrar onde não fosse convidada.
Soldadinho de Chumbo
Numa loja de brinquedos havia uma caixa de papelão com vinte e cinco soldadinhos de chumbo, todos iguaizinhos, pois haviam sido feitos com o mesmo molde. Apenas um deles era perneta: como fora o último a ser fundido, faltou chumbo para completar a outra perna. Mas o soldadinho perneta logo aprendeu a ficar em pé sobre a única perna e não fazia feio ao lado dos irmãos.
Esses soldadinhos de chumbo eram muito bonitos e elegantes, cada qual com seu fuzil ao ombro, a túnica escarlate, calça azul e uma bela pluma no chapéu. Além disso, tinham feições de soldados corajosos e cumpridores do dever.
Os valorosos soldadinhos de chumbo aguardavam o momento em que passariam a pertencer a algum menino.
Chegou o dia em que a caixa foi dada de presente de aniversário a um garoto. Foi o presente de que ele mais gostou:
— Que lindos soldadinhos! — exclamou maravilhado.
E os colocou enfileirados sobre a mesa, ao lado dos outros brinquedos. O soldadinho de uma perna só era o último da fileira.
Ao lado do pelotão de chumbo se erguia um lindo castelo de papelão, um bosque de árvores verdinhas e, em frente, havia um pequeno lago feito de um pedaço de espelho.
A maior beleza, porém, era uma jovem que estava em pé na porta do castelo. Ela também era de papel, mas vestia uma saia de tule bem franzida e uma blusa bem justa. Seu lindo rostinho era emoldurado por longos cabelos negros, presos por uma tiara enfeitada com uma pequenina pedra azul.
A atraente jovem era uma bailarina, por isso mantinha os braços erguidos em arco sobre a cabeça. Com uma das pernas dobrada para trás, tão dobrada, mas tão dobrada, que acabava escondida pela saia de tule.
O soldadinho a olhou longamente e logo se apaixonou, e pensando que, tal como ele, aquela jovem tão linda tivesse uma perna só.
“Mas é claro que ela não vai me querer para marido”, pensou entristecido o soldadinho, suspirando.
“Tão elegante, tão bonita… Deve ser uma princesa. E eu? Nem cabo sou, vivo numa caixa de papelão, junto com meus vinte e quatro irmãos”.
À noite, antes de deitar, o menino guardou os soldadinhos na caixa, mas não percebeu que aquele de uma perna só caíra atrás de uma grande cigarreira.
Quando os ponteiros do relógio marcaram meia-noite, todos os brinquedos se animaram e começaram a aprontar mil e uma. Uma enorme bagunça!
As bonecas organizaram um baile, enquanto o giz da lousa desenhava bonequinhos nas paredes. Os soldadinhos de chumbo, fechados na caixa, golpeavam a tampa para sair e participar da festa, mas continuavam prisioneiros.
Mas o soldadinho de uma perna só e a bailarina não saíram do lugar em que haviam sido colocados.
Ele não conseguia parar de olhar aquela maravilhosa criatura. Queria ao menos tentar conhecê-la, para ficarem amigos.
De repente, se ergueu da cigarreira um homenzinho muito mal-encarado. Era um gênio ruim, que só vivia pensando em maldades.
Assim que ele apareceu, todos os brinquedos pararam amedrontados, pois já sabiam de quem se tratava.
O geniozinho olhou a sua volta e viu o soldadinho, deitado atrás da cigarreira.
— Ei, você aí, por que não está na caixa, com seus irmãos? — gritou o monstrinho.
Fingindo não escutar, o soldadinho continuou imóvel, sem desviar os olhos da bailarina.
— Amanhã vou dar um jeito em você, você vai ver! - gritou o geniozinho enfezado.
Depois disso, pulou de cabeça na cigarreira, levantando uma nuvem que fez todos espirrarem.
Na manhã seguinte, o menino tirou os soldadinhos de chumbo da caixa, recolheu aquele de uma perna só, que estava caído atrás da cigarreira, e os arrumou perto da janela.
O soldadinho de uma perna só, como de costume, era o último da fila.
De repente, a janela se abriu, batendo fortemente as venezianas. Teria sido o vento, ou o geniozinho maldoso?
E o pobre soldadinho caiu de cabeça na rua.
O menino viu quando o brinquedo caiu pela janela e foi correndo procurá-lo na rua. Mas não o encontrou. Logo se consolou: afinal, tinha ainda os outros soldadinhos, e todos com duas pernas.
Para piorar a situação, caiu um verdadeiro temporal.
Quando a tempestade foi cessando, e o céu limpou um pouco, chegaram dois moleques. Eles se divertiam, pisando com os pés descalços nas poças de água.
Um deles viu o soldadinho de chumbo e exclamou:
— Olhe! Um soldadinho! Será que alguém jogou fora porque ele está quebrado?
— É, está um pouco amassado. Deve ter vindo com a enxurrada.
— Não, ele está só um pouco sujo.
— O que nós vamos fazer com um soldadinho só? Precisaríamos pelo menos meia dúzia, para organizar uma batalha.
— Sabe de uma coisa? — Disse o primeiro garoto. —Vamos colocá-lo num barco e mandá-lo dar a volta ao mundo.
E assim foi. Construíram um barquinho com uma folha de jornal, colocaram o soldadinho dentro dele e soltaram o barco para navegar na água que corria pela sarjeta.
Apoiado em sua única perna, com o fuzil ao ombro, o soldadinho de chumbo procurava manter o equilíbrio.
O barquinho dava saltos e esbarrões na água lamacenta, acompanhado pelos olhares dos dois moleques que, entusiasmados com a nova brincadeira, corriam pela calçada ao lado.
Lá pelas tantas, o barquinho foi jogado para dentro de um bueiro e continuou seu caminho, agora subterrâneo, em uma imensa escuridão. Com o coração batendo fortemente, o soldadinho voltava todos seus pensamentos para a bailarina, que talvez nunca mais pudesse ver.
De repente, viu chegar em sua direção um enorme rato de esgoto, olhos fosforescente e um horrível rabo fino e comprido, que foi logo perguntando:
— Você tem autorização para navegar? Então? Ande, mostre-a logo, sem discutir.
O soldadinho não respondeu, e o barquinho continuou seu incerto caminho, arrastado pela correnteza. Os gritos do rato do esgoto exigindo a autorização foram ficando cada vez mais distantes.
Enfim, o soldadinho viu ao longe uma luz, e respirou aliviado; aquela viagem no escuro não o agradava nem um pouco. Mal sabia ele que, infelizmente, seus problemas não haviam acabado.
A água do esgoto chegara a um rio, com um grande salto; rapidamente, as águas agitadas viraram o frágil barquinho de papel.
O barquinho virou, e o soldadinho de chumbo afundou.
Mal tinha chegado ao fundo, apareceu um enorme peixe que, abrindo a boca, engoliu-o.
O soldadinho se viu novamente numa imensa escuridão, espremido no estômago do peixe. E não deixava de pensar em sua amada: “O que estará fazendo agora sua linda bailarina? Será que ainda se lembra de mim?”.
E, se não fosse tão destemido, teria chorado lágrimas de chumbo, pois seu coração sofria de paixão.
Passou-se muito tempo — quem poderia dizer quanto?
E, de repente, a escuridão desapareceu e ele ouviu quando falavam:
— Olhe! O soldadinho de chumbo que caiu da janela!
Sabem o que aconteceu? O peixe havia sido fisgado por um pescador, levado ao mercado e vendido a uma cozinheira. E, por cúmulo da coincidência, não era qualquer cozinheira, mas sim a que trabalhava na casa do menino que ganhara o soldadinho no aniversário.
Ao limpar o peixe, a cozinheira encontrara dentro dele o soldadinho, do qual se lembrava muito bem, por causa daquela única perna.
Levou-o para o garotinho, que fez a maior festa ao revê-lo. Lavou-o com água e sabão, para tirar o fedor de peixe, e endireitou a ponta do fuzil, que amassara um pouco durante aquela aventura.
Limpinho e lustroso, o soldadinho foi colocado sobre a mesma mesa em que estava antes de voar pela janela. Nada estava mudado. O castelo de papel, o pequeno bosque de árvores muito verdes, o lago reluzente feito de espelho. E, na porta do castelo, lá estava ela, a bailarina: sobre uma perna só, com os braços erguidos acima da cabeça, mais bela do que nunca.
O soldadinho olhou para a bailarina, ainda mais apaixonado, ela olhou para ele, mas não trocaram palavra alguma. Ele desejava conversar, mas não ousava. Sentia-se feliz apenas por estar novamente perto dela e poder amá-la.
Se pudesse, ele contaria toda sua aventura; com certeza a linda bailarina iria apreciar sua coragem. Quem sabe, até se casaria com ele…
Enquanto o soldadinho pensava em tudo isso, o garotinho brincava tranqüilo com o pião.
De repente como foi, como não foi — é caso de se pensar se o geniozinho ruim da cigarreira não metera seu nariz —, o garotinho agarrou o soldadinho de chumbo e atirou-o na lareira, onde o fogo ardia intensamente.
O pobre soldadinho viu a luz intensa e sentiu um forte calor. A única perna estava amolecendo e a ponta do fuzil envergava para o lado. As belas cores do uniforme, o vermelho escarlate da túnica e o azul da calça perdiam suas tonalidades.
O soldadinho lançou um último olhar para a bailarina, que retribuiu com silêncio e tristeza. Ele sentiu então que seu coração de chumbo começava a derreter — não só pelo calor, mas principalmente pelo amor que ardia nele.
Naquele momento, a porta escancarou-se com violência, e uma rajada de vento fez voar a bailarina de papel diretamente para a lareira, bem junto ao soldadinho. Bastou uma labareda e ela desapareceu. O soldadinho também se dissolveu completamente.
No dia seguinte. a arrumadeira, ao limpar a lareira, encontrou no meio das cinzas um pequenino coração de chumbo: era tudo que restara do soldadinho, fiel até o último instante ao seu grande amor.
Da pequena bailarina de papel só restou a minúscula pedra azul da tiara, que antes brilhava em seus longos cabelos negros.
O Patinho Feio
A mamãe pata tinha escolhido um lugar ideal para fazer seu ninho: um cantinho bem protegido, no meio da folhagem, perto do rio que contornava o velho castelo.
Mais adiante estendiam-se o bosque e um lindo jardim florido.
Naquele lugar sossegado, a pata agora aquecia pacientemente seus ovos. Por fim, após a longa espera, os ovos se abriram um após o outro, e das cascas rompidas surgiram, engraçadinhos e miúdos, os patinhas amarelos que, imediatamente, saltaram do ninho.
Porém um dos ovos ainda não se abrira; era um ovo grande, e a pata pensou que não o chocara o suficiente.
Impaciente, deu umas bicadas no ovão e ele começou a se romper.
No entanto, em vez de um patinho amarelinho saiu uma ave cinzenta e desajeitada. Nem parecia um patinho.
Para ter certeza de que o recém-nascido era um patinho, e não outra ave, a mãe-pata foi com ele até o rio e o obrigou a mergulhar junto com os outros.
Quando viu que ele nadava com naturalidade e satisfação, suspirou aliviada. Era só um patinho muito, muito feio.
Tranqüilizada, levou sua numerosa família para conhecer os outros animais que viviam nos jardins do castelo.
Todos parabenizaram a pata: a sua ninhada era realmente bonita. Exceto um. O horroroso e desajeitado das penas cinzentas!
— É grande e sem graça! — falou o peru.
— Tem um ar abobalhado — comentaram as galinhas.
O porquinho nada disse, mas grunhiu com ar de desaprovação.
Nos dias que se seguiram, as coisas pioraram. Todos os bichos, inclusive os patinhos, perseguiam a criaturinha feia.
A pata, que no princípio defendia aquela sua estranha cria, agora também sentia vergonha e não queria tê-lo em sua companhia.
O pobre patinho crescia só, malcuidado e desprezado. Sofria. As galinhas o bicavam a todo instante, os perus o perseguiam com ar ameaçador e até a empregada, que diariamente levava comida aos bichos, só pensava em enxotá-lo.
Um dia, desesperado, o patinho feio fugiu. Queria ficar longe de todos que o perseguiam.
Caminhou, caminhou e chegou perto de um grande brejo, onde viviam alguns marrecos. Foi recebido com indiferença: ninguém ligou para ele. Mas não foi maltratado nem ridicularizado; para ele, que até agora só sofrera, isso já era o suficiente.
Infelizmente, a fase tranqüila não durou muito. Numa certa madrugada, a quietude do brejo foi interrompida por um tumulto e vários disparos: tinham chegado os caçadores!
Muitos marrequinhos perderam a vida. Por um milagre, o patinho feio conseguiu se salvar, escondendo-se no meio da mata.
Depois disso, o brejo já não oferecia segurança; por isso, assim que cessaram os disparos, o patinho fugiu de lá.
Novamente caminhou, caminhou, procurando um lugar onde não sofresse.
Ao entardecer chegou a uma cabana. A porta estava entreaberta, e ele conseguiu entrar sem ser notado. Lá dentro, cansado e tremendo de frio, se encolheu num cantinho e logo dormiu.
Na cabana morava uma velha, em companhia de um gato, especialista em caçar ratos, e de uma galinha, que todos os dias botava o seu ovinho.
Na manhã seguinte, quando a dona da cabana viu o patinho dormindo no canto, ficou toda contente.
— Talvez seja uma patinha. Se for, cedo ou tarde botará ovos, e eu poderei preparar cremes, pudins e tortas, pois terei mais ovos. Estou com muita sorte!
Mas o tempo passava, e nenhum ovo aparecia. A velha começou a perder a paciência. A galinha e o gato, que desde o começo não viam com bons olhos recém-chegado, foram ficando agressivos e briguentos.
Mais uma vez, o coitadinho preferiu deixar a segurança da cabana e se aventurar pelo mundo.
Caminhou, caminhou e achou um lugar tranqüilo perto de uma lagoa, onde parou.
Enquanto durou a boa estação, o verão, as coisas não foram muito mal. O patinho passava boa parte do tempo dentro da água e lá mesmo encontrava alimento suficiente.
Mas chegou o outono. As folhas começaram a cair, bailando no ar e pousando no chão, formando um grande tapete amarelo. O céu se cobriu de nuvens ameaçadoras e o vento esfriava cada vez mais.
Sozinho, triste e esfomeado, o patinho pensava, preocupado, no inverno que se aproximava.
Num final de tarde, viu surgir entre os arbustos um bando de grandes e lindíssimas aves. Tinham as plumas alvas, as asas grandes e um longo pescoço, delicado e sinuoso: eram cisnes, emigrando na direção de regiões quentes. Lançando estranhos sons, bateram as asas e levantaram vôo, bem alto.
O patinho ficou encantado, olhando a revoada, até que ela desaparecesse no horizonte. Sentiu uma grande tristeza, como se tivesse perdido amigos muito queridos.
Com o coração apertado, lançou-se na lagoa e nadou durante longo tempo. Não conseguia tirar o pensamento daquelas maravilhosas criaturas, graciosas e elegantes.
Foi se sentindo mais feio, mais sozinho e mais infeliz do que nunca.
Naquele ano, o inverno chegou cedo e foi muito rigoroso.
O patinho feio precisava nadar ininterruptamente, para que a água não congelasse em volta de seu corpo, criando uma armadilha mortal. Mas era uma luta contínua e sem esperança.
Um dia, exausto, permaneceu imóvel por tempo suficiente para ficar com as patas presas no gelo.
— Agora morrerei — pensou. — Assim, terá fim todo meu sofrimento.
Fechou os olhos, e o último pensamento que teve antes de cair num sono parecido com a morte foi para as grandes aves brancas.
Na manhã seguinte, bem cedo, um camponês que passava por aqueles lados viu o pobre patinho, já meio morto de frio.
Quebrou o gelo com um pedaço de pau, libertou o pobrezinho e levou-o para sua casa.
Lá o patinho foi alimentado e aquecido, recuperando um pouco de suas forças. Logo que deu sinais de vida, os filhos do camponês se animaram:
— Vamos fazê-lo voar!
— Vamos escondê-lo em algum lugar!
E seguravam o patinho, apertavam-no, esfregavam-no. Os meninos não tinham más intenções; mas o patinho, acostumado a ser maltratado, atormentado e ofendido, se assustou e tentou fugir. Fuga atrapalhada!
Caiu de cabeça num balde cheio de leite e, esperneando para sair, derrubou tudo. A mulher do camponês começou a gritar, e o pobre patinho se assustou ainda mais.
Acabou se enfiando no balde da manteiga, engordurando-se até os olhos e, finalmente se enfiou num saco de farinha, levantando uma poeira sem fim. br> A cozinha parecia um campo de batalha. Fora de si, a mulher do camponês pegara a vassoura e procurava golpear o patinho. As crianças corriam atrás do coitadinho, divertindo-se muito.
Meio cego pela farinha, molhado de leite e engordurado de manteiga, esbarrando aqui e ali, o pobrezinho por sorte conseguiu afinal encontrar a porta e fugir, escapando da curiosidade das crianças e da fúria da mulher.
Ora esvoaçando, ora se arrastando na neve, ele se afastou da casa do camponês e somente parou quando lhe faltaram as forças.
Nos meses seguintes, o patinho viveu num lago, se abrigando do gelo onde encontrava relva seca.
Finalmente, a primavera derrotou o inverno. Lá no alto, voavam muitas aves. Um dia, observando-as, o patinho sentiu um inexplicável e incontrolável desejo de voar.
Abriu as asas, que tinham ficado grandes e robustas, e pairou no ar. Voou. Voou. Voou longamente, até que avistou um imenso jardim repleto de flores e de árvores; do meio das árvores saíram três aves brancas.
O patinho reconheceu as lindas aves que já vira antes, e se sentiu invadir por uma emoção estranha, como se fosse um grande amor por elas.
— Quero me aproximar dessas esplêndidas criaturas — murmurou. — Talvez me humilhem e me matem a bicadas, mas não importa. É melhor morrer perto delas do que continuar vivendo atormentado por todos.
Com um leve toque das asas, abaixou-se até o pequeno lago e pousou tranqüilamente na água.
— Podem matar-me, se quiserem — disse, resignado, o infeliz.
E abaixou a cabeça, aguardando a morte. Ao fazer isso, viu a própria imagem refletida na água, e seu coração entristecido deu um pulo. O que via não era a criatura desengonçada, cinzenta e sem graça de outrora. Enxergava as penas brancas, as grandes asas e um pescoço longo e sinuoso.
Ele era um cisne! Um cisne, como as aves que tanto admirava.
— Bem-vindo entre nós! — disseram-lhe os três cisnes, curvando os pescoços, em sinal de saudação.
Aquele que num tempo distante tinha sido um patinho feio, humilhado, desprezado e atormentado se sentia agora tão feliz que se perguntava se não era um sonho!
Mas, não! Não estava sonhando. Nadava em companhia de outros, com o coração cheio de felicidade.
Mais tarde, chegaram ao jardim três meninos, para dar comida aos cisnes.
O menorzinho disse, surpreso:
— Tem um cisne novo! E é o mais belo de todos! E correu para chamar os pais.
— É mesmo uma esplêndida criatura! — disseram os pais.
E jogaram pedacinhos de biscoito e de bolo. Tímido diante de tantos elogios, o cisne escondeu a cabeça embaixo da asa.
Talvez um outro, em seu lugar, tivesse ficado envaidecido. Mas não ele. Seu coração era muito bom, e ele sofrera muito, antes de alcançar a sonhada felicidade.
O pai morreu, mas a vida de Aladim continuou a mesma. Passava o tempo todo nas ruas brincando com os amigos. Foi assim a:r o dia em que um homem estranho se dirigiu a ele, dizendo:
— Você é Aladim, o filho do alfaiate?
— Sim, sou eu, mas meu pai morreu — espantou-se o garoto. E ~ í;= surpreendido ficou quando o estranho começou a lamentar-se:
— Pobre do meu irmãoI Eu que vim da África para revê-.: meu sobrinho querido, abrace o irmão do seu pobre pai.
O desconhecido continuou contando a Aladim que se ocuparia dele e lhe daria muitas riquezas. O rapaz estava quase para responder preferia continuar brincando com os amigos, quando o desconhecido disse que iria falar com a mãe de Aladim no dia seguinte.
De fato, o desconhecido apareceu na casa da mãe de Aladim, deu-lhe algumas moedas de ouro e explicou quem era. acrescentando:
— Sou muito rico e não tenho filhos," quero educar Aladim para ser me herdeiro. Preciso apenas de seu consentimento para levá-lo comigo.
— Que estranho! Meu marido nunca falou em nenhum irmão…
— Isso deve ser porque sempre vivemos um longe do outro — disse o homem. — Gostaria de voltar para minha terra levando meu sobrinho comigo.
Aladim não estava com vontade de viajar com o tio, pois preferia brincar na rua com os amigos. A mae, porém, considerava o oferecimento do cunhado como uma grande oportunidade, por isso aconselhou o filho a ir e melhorar de fortuna. Aladim partiu com o tio.
Viajaram sem parar até chegarem a uma grande floresta junto a uma montanha. Aladim sentia-se muito cansado, mas, quando quis repousar, o tio ordenou-lhe:
— Vá apanhar lenha para acender o fogo e eu mostrarei a você coisas maravilhosas.
— Que coisas? — indagou o rapaz, que não estava com muita vontade de ir buscar a lenha.
— Chega de perguntas! Vá depressa buscar a lenha. Fique sabendo que não sou seu tio, sou um poderoso mago africano. Se você não obedecer, transformo-o num pedaço de madeira para fazer fogo.
Ao ouvir aquelas palavras, Aladim, que já estava desconfiado de que o homem não era mesmo seu tio, assustou-se e saiu a correr em busca da lenha. Voltou em seguida e acendeu um grande fogo.
E puxa pra cima, se feche ou se abra e abracadabra somente co’ a rima: o pesado é leve com esta magia, a pedra se eleve de noite ou de dia.
Assim que as chamas subiram, o mago aproximou-se o mais possível do fogo e pronunciou em voz alta palavras misteriosas:
O pó de três dentes de cinco serpentes; do coelho a pata e um rabo de rata com incenso queimamos enquanto cantamos a canção da magia, de noite ou de dia:
Conforme o mago falou, no lugar do fogo apareceu uma grande pedra com uma argola de ferro. Mesmo assustado, Aladim não pôde deixar de perguntar:
— Como fez isso, mago?
— Segredo profissional, meu filho. Esta pedra esconde a entrada de um subterrâneo cheio de riquezas. Se você descer lá, pode apanharo que quiser. Para mim, traga uma velha lâmpada que encontrará no chão.
O rapaz puxou a pedra pela argola e ela se moveu facilmente. Embaixo havia um buraco e uma escada.
Mas Aladim se mostrava muito assustado e sem vontade de descer. O mago lhe deu um anel mágico, dizendo que era para protegê-lo se tivesse necessidade, e acrescentou:
— Não tenha medo, Aladim; li nos livros
mágicos que você é o único ser humano
que pode descer nessa caverna.
Aladim começou a descer pela escadaria, que parecia interminável. Conforme andava, sentia frio. Do fundo da gruta vinha uma estranha luz pela qual Aladim se guiava. Continuou a descer. A primeira coisa que encontrou, no fundo, foi a lâmpada que o mago lhe pedira. Admirado exclamou:
— Que lâmpada velha e suja! Para que ele faz questão de uma coisa dessas?
Aladim nunca tinha visto pedras preciosas, por isso não podia reconhecê-las. Mas sabia que elas costumavam ser acomodadas em estojos pelos joalheiros. Por isto procurava as caixinhas de veludo onde elas deveriam estar. Como não encontrou nada assim, achou que o mago o tinha enganado. Resolveu, porém, colher alguns frutos que pendiam das árvores e que lhe pareceram de vidro colorido. Eram rubis, safiras e brilhantes, pois ele estava no jardim encantado, sem o saber. Com os bolsos cheios de jóias, tomou o caminho de volta, para indagar ao mago onde estavam escondidos os tesouros que lhe prometera em troca dá lâmpada.
A escada era tão longa que, quando chegou lá em cima, Aladim apenas pensava em ir embora e pediu ao mago:
— Ajude-me a sair deste buraco !
— Dê-me a minha lâmpada, depois eu o ajudo.
_ Ajude-me primeiro, depois eu lhe dou a lâmpada.
Mas o mago continuou insistindo:
_ Primeiro me dê a lâmpada.
— Não!
— Sim!
— Não!
— Pela última vez eu o aviso: me dê essa lâmpada!
— Tire-me daqui primeiro!
O mago, furioso, recolocou a pedra na entrada, dizendo:
— Pois fique aí para sempre.
O pobre Aladim desesperou-se, achando que nunca mais iria poder sair dali. Chorava muito triste, esfregando os olhos com as mãos
De repente surgiu diante dele um ser estranho, que disse:
— Ordene, meu senhor ! Aladim, estonteado com aquilo, indagou:
— Quem é você?
— Sou o escravo do anel. Você esfregou o anel quando limpou os olhos e esse é o sinal para que eu me ponha às ordens do dono do anel encantado. Ordene, meu senhor!
— Quero voltar para casa — pediu Aladim.
— Assim será feito, meu senhor.
Ditas estas palavras, como em sonho, Aladim encontrou-se em sua casa.
Aladim contou tudo à mãe e mostrou-lhe as estranhas pedras que colhera das árvores do jardim encantado, explicando:
— Não havia tesouro nenhum, só estas pedrinhas e esta lâmpada velha.
— Vou limpar a lâmpada para vendê-la — disse a mãe. — Assim compraremos alguma coisa para comer.
Pensando nas dificuldades por que passara com o mago, e no medo de ficar preso para sempre na caverna, Aladim comentou:
— Pena papai não estar mais conosco, para ver como vou me
modificar e me tornar um filho modelo.
A mãe o abraçou e o beijou, dizendo:
— Você é um bom menino. Quando eu tiver terminado
de polir a lâmpada, você vai vendê-la no mercado.
Mal a mãe tocou na lâmpada, surgiu diante deles um ser enorme, duas vezes maior do que o escravo do anel, e disse
— Sou o gênio da lâmpada, nada me é impossível, ordene Aladim saltou de alegria. Batendo palmas, exclamou:
— Que maravilhai Gênio, arranje o almoço para nós.
— Isso você podia ter pedido ao gênio do anel! Mas afinal, já que estou aqui, vou servir-lhe as comidas mais raras.
Ao ver surgir o banquete, Aladim cantou:
Tudo o que desejar o gênio me dará, é só eu ordenar e a lâmpada brilhará.
Nem sei o que pedir, se um castelo no ar, a roupa de um grão-vizir, é só eu ordenar!
Passaram-se os anos. Aladim tornou-se homem e o gênio continuou obedecendo-o. Nesse tempo em toda a China se falava da beleza de Budur, a filha do imperador. De fato ninguém a vira, pois, quando ela passava pelas ruas, vinham à frente guardas, que ordenavam:
— Fechem todas as portas e janelas, que a Princesa Budur vai passar
Mas um dia Aladim resolveu espiar e descobrir se a princesa era assim tão linda como diziam. Ficou apaixonado e disse à mãe:
— Ponha as pedras preciosas do jardim encantado em uma cesta, leve-as ao imperador e peça-lhe a filha em casamento para mim.
— Mas, meu filho, o imperador não vai aceitar — ponderou a mãe.
— Aceita, sim! Mas espere, falta um guardanapo de linho para cobrir a cesta… Gênio da lâmpada, preciso de você.
— Ordene, meu senhor! Quer que eu derrube uma montanha? Construa uma cidade? Destrua a China? Que esvazie o mar?
— Quero apenas um guardanapo de linho para cobrir esta esta — disse Aladim.
— E você chama o gênio da lâmpada para isso? Peça-me todas as riquezas da terra…
— Apenas um guardanapo e…
…e que seja pequeno, não é? Tome-o e cubra a cesta — disse
o gênio, mal-humorado.
A mãe de Aladim tentou convencê-lo a desistir da idéia de casar com a princesa. Mas ele continuou insistindo. A mãe cedeu e foi para o palácio com a cestinha debaixo do braço. Lá ficou esperando horas e horas. Por fim um ministro, pensando que se tratava de uma pobre mulher que precisava de algum auxílio do imperador, mandou-a entrar. Ela o seguiu muito humilde, sempre carregando a cesta coberta com o guardanapo de linho, e disposta a enfrentar as conseqüências do pedido absurdo que o filho a obrigava a fazer.
Curvou-se diante do imperador e disse
— Majestade, meu filho Aladim
manda-lhe este presente..
— De que se trata? Camarões frite ninhos de andorinha? — indagou o imperador, erguendo o guardanapo.
Mas, ao ver o que a cesta continha ficou deslumbrado e ofereceu:
— Em retribuição a este presen:r darei a Aladim o que ele me pedir.
— Ele pede sua filha em casam ente
— Está concedido — disse o im^
No dia do casamento houve festa em toda a China. Antes da cerimônia, Aladim esfregou a lâmpada e o gênio apareceu:
— Que você quer desta vez? Uma pitada de sal? Um fio de linha?
— Quero que você me construa um palácio em frente ao do imperador.
— Nao digal Um palácio completo?
— E que seja todo de ouro maciço 1
— Afinal você me pede um trabalhe importante] — respondeu o gênio.
Cada manha, quando o imperador olhava para o palácio de Aladim em frente ao seu, pensava no rico casamento que a filha fizera e senlia-se muito contente. A bela Budur e Aladim viviam felizes no palácio de ouro. Em toda a China falava-se de Aladim como um jovem sábio e generoso. Ele, por sua vez, sentia-se
seguro tendo às suas ordens o gênio da lâmpada e o gênio do anel.
A felicidade dos dois jovens era completa, mas durou pouco. Aladim precisou viajar devido a uma guerra. Budur ficou só, no palácio. Um dia a princesa foi atraída até a janela por um estranho pregão que vinha da rua:
— Quem quer trocar lâmpada velha por lâmpada nova? Dou uma lâmpa
nova de presente em troca de sua lâmpada velhal
Quem gritava assim era o mago, inimigo de Aladim, que se aproveitava da ausência do jovem para tentar recuperar a lâmpada mágica. Com nu cesta cheia de lâmpadas novas embaixo do braço, pusera-se a gritar diante das janelas do palácio de Aladim.
Budur comentou com uma de suas servas a estranha maneira de aquel< homem fazer negócios, e a moça aconselhou:
— Por que a senhora não troca a lâmpada velha que está
no quarto de seu marido por uma nova? — Você tem razão, vá buscar depressa aquela lâmpada para trocar.
Budur chamou o mago que ela pensava que fosse um mercador, ofereceu a lâmpada velha, imaginando que ele ia recusar. O mago reconheceu logo a lâmpada mágica, deu outra em troca e afastou- se Muito feliz, tratou logo de esfregar a lâmpada e o gênio apareceu:
— Pronto, Aladiml Mas você não é Aladiml O mago riu maldoso e respondeu:
— Claro que não sou Aladiml Sou seu novo senhor, o mago africano. O gênio percebeu logo que se tratava de um mau amo e disse:
— Mas eu não sei se posso…
— Deixe de conversa e obedeça.
— Sim, meu -senhor!
— Carregue para a África o palácio de Aladim com todos os seus habitantes. Rápido, vamos!
— Será cumprida sua ordem, meu senhor. A esplêndida morada de Aladim será levada para a África neste mesmo momento.
Quando o pobre Aladim voltou da guerra, nao encontrou mais seu palácio, nem sua esposa. Tudo tinha sido levado para a África. Por sua vez, o imperador estava furioso:
— Se minha filha não estiver de volta dentro de quarenta dias, mandarei cortar sua cabeça!
Aladim, tristíssimo, retirou-se para um lugar isolado e esfregou o anel. Imediatamente apareceu o escravo, a quem Aladim ordenou:
Traga de de volta minha esposa e meu palácio! — Não tenho poderes sobre os encantamentos do gênio da lâmpada — explicou o gênio do anel ao desconsolado Aladim. — Posso apenas, se meu senhor quiser, conduzi-lo até o seu palácio na África.
Em seguida Aladim se encontrou na janela do seu palácio e chamou que se alegrou muito em vê-lo. Aladim, sem perder tempo, explicou:
— Vim libertá-la! Isto é um narcótico violento, derrame-o no vinho do mago para que ele durma. O resto fica por minha conta.
— Farei o que você diz, mas fuja daqui. O mago ameaça mandar cortar sua cabeça.
Naquela noite o mago bebeu o narcótico e e dormiu profundamente. Aladim, que ficara escondido, apoderou-se da lâmpada e a esfregou. O gênio apareceu, dizendo:
_ Ordene, mago! Mas veja só! É o meu senhor Aladim!
— Eu mesmo! Depressa, carregue o mais rápida possível para a ilha mais deserta que você encontrar!
E a nós e ao castelo, leve para a Chir!
O imperador e a mãe de Aladim nem podiam acreditar quando viram os filhos de volta, tal a felicidade que sentiram. Daí em diante Aladim e Budur foram outra vez muito felizes e o mago nunca mais saiu da ilha deserta.
Depois de ganhar e perder Aladim já não abusa da lâmpada e seu poder. Sabe que o que se usa com controle e medida não causa preocupação e dura pra toda a vida
Rapunzel
Era uma vez um casal que há muito tempo desejava inutilmente ter um filho. Os anos se passavam, e seu sonho não se realizava. Afinal, um belo dia, a mulher percebeu que Deus ouvira suas preces. Ela ia ter uma criança!
Por uma janelinha que havia na parte dos fundos da casa deles, era possível ver, no quintal vizinho, um magnífico jardim cheio das mais lindas flores e das mais viçosas hortaliças. Mas em torno de tudo se erguia um muro altíssimo, que ninguém se atrevia a escalar. Afinal, era a propriedade de uma feiticeira muito temida e poderosa.
Um dia, espiando pela janelinha, a mulher se admirou ao ver um canteiro cheio dos mais belos pés de rabanete que jamais imaginara. As folhas eram tão verdes e fresquinhas que abriram seu apetite. E ela sentiu um enorme desejo de provar os rabanetes.
A cada dia seu desejo aumentava mais. Mas ela sabia que não havia jeito de conseguir o que queria e por isso foi ficando triste, abatida e com um aspecto doentio, até que um dia o marido se assustou e perguntou:
— O que está acontecendo contigo, querida?
— Ah! — respondeu ela. — Se não comer um rabanete do jardim da feiticeira, vou morrer logo, logo!
O marido, que a amava muito, pensou: “Não posso deixar minha mulher morrer… Tenho que conseguir esses rabanetes, custe o que custar!”
Ao anoitecer, ele encostou uma escada no muro, pulou para o quintal vizinho, arrancou apressadamente um punhado de rabanetes e levou para a mulher. Mais que depressa, ela preparou uma salada que comeu imediatamente, deliciada. Ela achou o sabor da salada tão bom, mas tão bom, que no dia seguinte seu desejo de comer rabanetes ficou ainda mais forte. Para sossegá-la, o marido prometeu-lhe que iria buscar mais um pouco.
Quando a noite chegou, pulou novamente o muro mas, mal pisou no chão do outro lado, levou um tremendo susto: de pé, diante dele, estava a feiticeira.
— Como se atreve a entrar no meu quintal como um ladrão, para roubar meus rabanetes? — perguntou ela com os olhos chispando de raiva. — Vai ver só o que te espera!
— Oh! Tenha piedade! — implorou o homem. — Só fiz isso porque fui obrigado! Minha mulher viu seus rabanetes pela nossa janela e sentiu tanta vontade de comê-los, mas tanta vontade, que na certa morrerá se eu não levar alguns!
A feiticeira se acalmou e disse:
— Se é assim como diz, deixo você levar quantos rabanetes quiser, mas com uma condição: irá me dar a criança que sua mulher vai ter. Cuidarei dela como se fosse sua própria mãe, e nada lhe faltará.
O homem estava tão apavorado, que concordou. Pouco tempo depois, o bebê nasceu. Era uma menina. A feiticeira surgiu no mesmo instante, deu à criança o nome de Rapunzel e levou-a embora.
Rapunzel cresceu e se tomou a mais linda criança sob o sol. Quando fez doze anos, a feiticeira trancou-a no alto de uma torre, no meio da floresta.
A torre não possuía nem escada, nem porta: apenas uma janelinha, no lugar mais alto. Quando a velha desejava entrar, ficava embaixo da janela e gritava:
— Rapunzel, Rapunzel! Joga abaixo tuas tranças!
Rapunzel tinha magníficos cabelos compridos, finos como fios de ouro. Quando ouvia o chamado da velha, abria a janela, desenrolava as tranças e jogava-as para fora. As tranças caíam vinte metros abaixo, e por elas a feiticeira subia.
Alguns anos depois, o filho do rei estava cavalgando pela floresta e passou perto da torre. Ouviu um canto tão bonito que parou, encantado.
Rapunzel, para espantar a solidão, cantava para si mesma com sua doce voz.
Imediatamente o príncipe quis subir, procurou uma porta por toda parte, mas não encontrou. Inconformado, voltou para casa. Mas o maravilhoso canto tocara seu coração de tal maneira que ele começou a ir para a floresta todos os dias, querendo ouvi-lo outra vez.
Em uma dessas vezes, o príncipe estava descansando atrás de uma árvore e viu a feiticeira aproximar-se da torre e gritar: “Rapunzel, Rapunzel! Joga abaixo tuas tranças!”. E viu quando a feiticeira subiu pelas tranças.
“É essa a escada pela qual se sobe?”, pensou o príncipe. “Pois eu vou tentar a sorte…”.
No dia seguinte, quando escureceu, ele se aproximou da torre e, bem embaixo da janelinha, gritou:
— Rapunzel, Rapunzel! Joga abaixo tuas tranças!
As tranças caíram pela janela abaixo, e ele subiu.
Rapunzel ficou muito assustada ao vê-lo entrar, pois jamais tinha visto um homem.
Mas o príncipe falou-lhe com muita doçura e contou como seu coração ficara transtornado desde que a ouvira cantar, explicando que não teria sossego enquanto não a conhecesse.
Rapunzel foi se acalmando, e quando o príncipe lhe perguntou se o aceitava como marido, reparou que ele era jovem e belo, e pensou: “Ele é mil vezes preferível à velha senhora…”. E, pondo a mão dela sobre a dele, respondeu:
— Sim! Eu quero ir com você! Mas não sei como descer… Sempre que vier me ver, traga uma meada de seda. Com ela vou trançar uma escada e, quando ficar pronta, eu desço, e você me leva no seu cavalo.
Combinaram que ele sempre viria ao cair da noite, porque a velha costumava vir durante o dia. Assim foi, e a feiticeira de nada desconfiava até que um dia Rapunzel, sem querer, perguntou a ela:
— Diga-me, senhora, como é que lhe custa tanto subir, enquanto o jovem filho do rei chega aqui num instantinho?
— Ah, menina ruim! — gritou a feiticeira. — Pensei que tinha isolado você do mundo, e você me engana!
Na sua fúria, agarrou Rapunzel pelo cabelos e esbofeteou-a. Depois, com a outra mão, pegou uma tesoura e tec, tec! cortou as belas tranças, largando-as no chão.
Não contente, a malvada levou a pobre menina para um deserto e abandonou-a ali, para que sofresse e passasse todo tipo de privação.
Na tarde do mesmo dia em que Rapunzel foi expulsa, a feiticeira prendeu as longas tranças num gancho da janela e ficou esperando. Quando o príncipe veio e chamou: “Rapunzel! Rapunzel! Joga abaixo tuas tranças!”, ela deixou as tranças caírem para fora e ficou esperando.
Ao entrar, o pobre rapaz não encontrou sua querida Rapunzel, mas sim a terrível feiticeira. Com um olhar chamejante de ódio, ela gritou zombeteira:
— Ah, ah! Você veio buscar sua amada? Pois a linda avezinha não está mais no ninho, nem canta mais! O gato apanhou-a, levou-a, e agora vai arranhar os seus olhos! Nunca mais você verá Rapunzel! Ela está perdida para você!
Ao ouvir isso, o príncipe ficou fora de si e, em seu desespero, se atirou pela janela. O jovem não morreu, mas caiu sobre espinhos que furaram seus olhos e ele ficou cego.
Desesperado, ficou perambulando pela floresta, alimentando-se apenas de frutos e raízes, sem fazer outra coisa que se lamentar e chorar a perda da amada.
Passaram-se os anos. Um dia, por acaso, o príncipe chegou ao deserto no qual Rapunzel vivia, na maior tristeza, com seus filhos gêmeos, um menino e uma menina, que haviam nascido ali.
Ouvindo uma voz que lhe pareceu familiar, o príncipe caminhou na direção de Rapunzel. Assim que chegou perto, ela logo o reconheceu e se atirou em seus braços, a chorar.
Duas das lágrimas da moça caíram nos olhos dele e, no mesmo instante, o príncipe recuperou a visão e ficou enxergando tão bem quanto antes.
Então, levou Rapunzel e as crianças para seu reino, onde foram recebidos com grande alegria. Ali viveram felizes e contentes.
A Bela Adormecida
Era uma vez, há muito tempo, um rei e uma rainha jovens, poderosos e ricos, mas pouco felizes, porque não tinham concretizado maior sonho deles: terem filhos.
— Se pudéssemos ter um filho! — suspirava o rei.
— E se Deus quisesse, que nascesse uma menina! —animava-se a rainha.
— E por que não gêmeos? — acrescentava o rei.
Mas os filhos não chegavam, e o casal real ficava cada vez mais triste. Não se alegravam nem com os bailes da corte, nem com as caçadas, nem com os gracejos dos bufões, e em todo o castelo reinava uma grande melancolia.
Mas, numa tarde de verão, a rainha foi banhar-se no riacho que passava no fundo do parque real. E, de repente, pulou para fora da água uma rãzinha.
— Majestade, não fique triste, o seu desejo se realizará logo: Antes que passe um ano a senhora dará à luz uma menina.
E a profecia da rã se concretizou, e meses depois a rainha deu a luz a uma linda menina.
O rei, que estava tão feliz, deu uma grande festa de batizado para a pequena princesa que se chamava Aurora.
Convidou uma multidão de súditos: parentes, amigos, nobres do reino e, como convidadas de honra, as treze fadas que viviam nos confins do reino. Mas, quando os mensageiros iam saindo com os convites, o camareiro-mor correu até o rei, preocupadíssimo.
— Majestade, as fadas são treze, e nós só temos doze pratos de ouro. O que faremos? A fada que tiver de comer no prato de prata, como os outros convidados, poderá se ofender. E uma fada ofendida…
O rei refletiu longamente e decidiu:
— Não convidaremos a décima terceira fada — disse, resoluto. — Talvez nem saiba que nasceu a nossa filha e que daremos uma festa. Assim, não teremos complicações.
Partiram somente doze mensageiros, com convites para doze fadas, conforme o rei resolvera.
No dia da festa, cada uma das fadas chegou perto do berço em que dormia a princesa Aurora e ofereceu à recém-nascida um presente maravilhoso.
— Será a mais bela moça do reino — disse a primeira fada, debruçando-se sobre o berço.
— E a de caráter mais justo — acrescentou a segunda.
— Terá riquezas a perder de vista — proclamou a terceira.
— Ninguém terá o coração mais caridoso que o seu — afirmou a quarta.
— A sua inteligência brilhará como um sol — comentou a quinta.
Onze fadas já tinham passado em frente ao berço e dado a pequena princesa um dom; faltava somente uma (entretida em tirar uma mancha do vestido, no qual um garçom desajeitado tinha virado uma taça de sorvete) quando chegou a décima terceira, aquela que não tinha sido convidada por falta de pratos de ouro.
Estava com a expressão muito sombria e ameaçadora, terrivelmente ofendida por ter sido excluída. Lançou um olhar maldoso para a princesa Aurora, que dormia tranqüila, e disse: — Aos quinze anos a princesa vai se ferir com o fuso de uma roca e morrerá.
E foi embora, deixando um silêncio desanimador e os pais desesperados.
Então aproximou-se a décima segunda fada, que devia ainda oferecer seu presente.
— Não posso cancelar a maldição que agora atingiu a princesa. Tenho poderes só para modificá-la um pouco. Por isso, Aurora não morrerá; dormirá por cem anos, até a chegada de um príncipe que a acordará com um beijo.
Passados os primeiros momentos de espanto e temor, o rei, decidiu tomar providências, mandou queimar todas as rocas do reino. E, daquele dia em diante, ninguém mais fiava, nem linho, nem algodão, nem lã. Ninguém além da torre do castelo.
Aurora crescia, e os presentes das fadas, apesar da maldição, estavam dando resultados. Era bonita, boa, gentil e caridosa, os súditos a adoravam.
No dia em que completou quinze anos, o rei e a rainha estavam ausentes, ocupados numa partida de caça. Talvez, quem sabe, em todo esse tempo tivessem até esquecido a profecia da fada malvada.
A princesa Aurora, porém, estava se aborrecendo por estar sozinha e começou a andar pelas salas do castelo. Chegando perto de um portãozinho de ferro que dava acesso à parte de cima de uma velha torre, abriu-o, subiu a longa escada e chegou, enfim, ao quartinho.
Ao lado da janela estava uma velhinha de cabelos brancos, fiando com o fuso uma meada de linho. A garota olhou, maravilhada. Nunca tinha visto um fuso.
— Bom dia, vovozinha.
— Bom dia a você, linda garota.
— O que está fazendo? Que instrumento é esse?
Sem levantar os olhos do seu trabalho, a velhinha respondeu com ar bonachão:
— Não está vendo? Estou fiando!
A princesa, fascinada, olhava o fuso que girava rapidamente entre os dedos da velhinha.
— Parece mesmo divertido esse estranho pedaço de madeira que gira assim rápido. Posso experimentá-lo também? Sem esperar resposta, pegou o fuso. E, naquele instante, cumpriu-se o feitiço. Aurora furou o dedo e sentiu um grande sono. Deu tempo apenas para deitar-se na cama que havia no aposento, e seus olhos se fecharam.
Na mesma hora, aquele sono estranho se difundiu por todo o palácio.
Adormeceram no trono o rei e a rainha, recém-chegados da partida de caça.
Adormeceram os cavalos na estrebaria, as galinhas no galinheiro, os cães no pátio e os pássaros no telhado.
Adormeceu o cozinheiro que assava a carne e o servente que lavava as louças; adormeceram os cavaleiros com as espadas na mão e as damas que enrolavam seus cabelos.
Também o fogo que ardia nos braseiros e nas lareiras parou de queimar, parou também o vento que assobiava na floresta. Nada e ninguém se mexia no palácio, mergulhado em profundo silêncio.
Em volta do castelo surgiu rapidamente uma extensa mata. Tão extensa que, após alguns anos, o castelo ficou oculto.
Nem os muros apareciam, nem a ponte levadiça, nem as torres, nem a bandeira hasteada que pendia na torre mais alta.
Nas aldeias vizinhas, passava de pai para filho a história da princesa Aurora, a bela adormecida que descansava, protegida pelo bosque cerrado. A princesa Aurora, a mais bela, a mais doce das princesas, injustamente castigada por um destino cruel.
Alguns cavalheiros, mais audaciosos, tentaram sem êxito chegar ao castelo. A grande barreira de mato e espinheiros, cerrada e impenetrável, parecia animada por vontade própria: os galhos avançavam para cima dos coitados que tentavam passar: seguravam-nos, arranhavam-nos até fazê-los sangrar, e fechavam as mínimas frestas.
Aqueles que tinham sorte conseguiam escapar, voltando em condições lastimáveis, machucados e sangrando. Outros, mais teimosos, sacrificavam a própria vida.
Um dia, chegou nas redondezas um jovem príncipe, bonito e corajoso. Soube pelo bisavô a história da bela adormecida que, desde muitos anos, tantos jovens a procuravam em vão alcançar.
— Quero tentar também — disse o príncipe aos habitantes de uma aldeia pouco distante do castelo.
Aconselharam-no a não ir. — Ninguém nunca conseguiu!
— Outros jovens, fortes e corajosos como você, falharam…
— Alguns morreram entre os espinheiros…
— Desista!
Muitos foram, os que tentarem desanimá-lo.
No dia em que o príncipe decidiu satisfazer a sua vontade se completavam justamente os cem anos da festa do batizado e das predições das fadas. Chegara, finalmente, o dia em que a bela adormecida poderia despertar.
Quando o príncipe se encaminhou para o castelo viu que, no lugar das árvores e galhos cheios de espinhos, se estendiam aos milhares, bem espessas, enormes carreiras de flores perfumadas. E mais, aquela mata de flores cheirosas se abriu diante dele, como para encorajá-lo a prosseguir; e voltou a se fechar logo, após sua passagem.
O príncipe chegou em frente ao castelo. A ponte elevadiça estava abaixada e dois guardas dormiam ao lado do portão, apoiados nas armas. No pátio havia um grande número de cães, alguns deitados no chão, outros encostados nos cantos; os cavalos que ocupavam as estrebarias dormiam em pé.
Nas grandes salas do castelo reinava um silêncio tão profundo que o príncipe ouvia sua própria respiração, um pouco ofegante, ressoando naquela quietude. A cada passo do príncipe se levantavam nuvens de poeira.
Salões, escadarias, corredores, cozinha… Por toda parte, o mesmo espetáculo: gente que dormia nas mais estranhas posições.
O príncipe perambulou por longo tempo no castelo. Enfim, achou o portãozinho de ferro que levava à torre, subiu a escada e chegou ao quartinho em que dormia A princesa Aurora.
A princesa estava tão bela, com os cabelos soltos, espalhados nos travesseiros, o rosto rosado e risonho. O príncipe ficou deslumbrado. Logo que se recobrou se inclinou e deu-lhe um beijo.
Imediatamente, Aurora despertou, olhou par ao príncipe e sorriu.
Todo o reino também despertara naquele instante.
Acordou também o cozinheiro que assava a carne; o servente, bocejando, continuou lavando as louças, enquanto as damas da corte voltavam a enrolar seus cabelos.
O fogo das lareiras e dos braseiros subiu alto pelas chaminés, e o vento fazia murmurar as folhas das árvores. A vida voltara ao normal. Logo, o rei e a rainha correram à procura da filha e, ao encontrá-la, chorando, agradeceram ao príncipe por tê-la despertado do longo sono de cem anos.
O príncipe, então, pediu a mão da linda princesa em casamento que, por sua vez, já estava apaixonada pelo seu valente salvador.
Eles, então, se casaram e viveram felizes para sempre!
A cigarra e a Formiga
Era uma vez uma cigarra que vivia saltitando e cantando pelo bosque, sem se preocupar com o futuro. Esbarrando numa formiguinha, que carregava uma folha pesada, perguntou:
- Ei, formiguinha, para que todo esse trabalho? O verão é para gente aproveitar! O verão é para gente se divertir!
- Não, não, não! Nós, formigas, não temos tempo para diversão. É preciso trabalhar agora para guardar comida para o inverno.
Durante o verão, a cigarra continuou se divertindo e passeando por todo o bosque. Quando tinha fome, era só pegar uma folha e comer.
Um belo dia, passou de novo perto da formiguinha carregando outra pesada folha A cigarra então aconselhou:
- Deixa esse trabalho para as outras! Vamos nos divertir. Vamos, formiguinha, vamos cantar! Vamos dançar!
A formiguinha gostou da sugestão. Ela resolveu ver a vida que a cigarra levava e ficou encantada. Resolveu viver também como sua amiga.
Mas, no dia seguinte, apareceu a rainha do formigueiro e, ao vê-la se divertindo, olhou feio para ela e ordenou que voltasse ao trabalho. Tinha terminado a vidinha boa.
A rainha das formigas falou então para a cigarra:
- Se não mudar de vida, no inverno você há de se arrepender, cigarra! Vai passar fome e frio.
A cigarra nem ligou, fez uma reverência para rainha e comentou:
- Hum!! O inverno ainda está longe, querida!
Para cigarra, o que importava era aproveitar a vida, e aproveitar o hoje, sem pensar no amanhã. Para que construir um abrigo? Para que armazenar alimento? Pura perda de tempo.
Certo dia o inverno chegou, e a cigarra começou a tiritar de frio. Sentia seu corpo gelado e não tinha o que comer. Desesperada, foi bater na casa da formiga.
Abrindo a porta, a formiga viu na sua frente a cigarra quase morta de frio.
Puxou-a para dentro, agasalhou-a e deu-lhe uma sopa bem quente e deliciosa.
Naquela hora, apareceu a rainha das formigas que disse à cigarra: - No mundo das formigas, todos trabalham e se você quiser ficar conosco, cumpra o seu dever: toque e cante para nós.
Para cigarra e paras formigas, aquele
Dona Baratinha
Era uma vez uma baratinha que varria o salão quando, de repente, encontrou uma moedinha:
- Obá! Agora fiquei rica, e já posso me casar!
Este era o maior sonho da Dona Baratinha, que queria muito fazer tudo como tinha visto no cinema:
Então, colocou uma fita no cabelo, guardou o dinheiro na caixinha, e foi para a janela cantar:
- Quem quer casar com a Dona Baratinha, que tem fita no cabelo e dinheiro na caixinha?
Um ratinho muito interesseiro estava passando por ali, e ficou imaginando o grande tesouro que a baratinha devia ter encontrado para cantar assim tão feliz.
Tentou muito chamar sua atenção e dizer: "Eu quero! Eu quero!" Mas ele era muito pequeno e tinha a voz muito fraquinha e, enquanto cantava, Dona Baratinha nem ouviu.
Então chegou o , com seu latido forte, foi logo dizendo: - Eu quero! Au! Au!
Mas, Dona Baratinha se assustou muito com o barulhão dele, e disse:
- Não, não, não, não quero você não, você faz muito barulhão!
E o cachorrão foi embora.
O ratinho pensou: agora é minha vez! Mas...
- Eu quero, disse o elefante.
Dona Baratinha, com medo que aquele animal fizesse muito barulho, pediu que ele mostrasse como fazia. E ele mostrou:
- Não, não, não, não quero você não, você faz muito barulhão!
E o elefante foi embora.
O ratinho pensou novamente: "Agora é a minha vez!", mas...
Outro animal já ia dizendo bem alto: "Eu quero! Eu quero!"
E Dona Baratinha perguntou:
- Como é o seu barulho?
- GRRR!
- Não, não, não, não quero você não, você faz muito barulhão!
E vieram então vários outros animais: o rinoceronte, o leão, o papagaio, a onça, o tigre ... A todos Dona Baratinha disse não: ela tinha muito medo de barulho forte.
E continuou a cantar na janela:
- Quem quer casar com a Dona Baratinha, que tem fita no cabelo e dinheiro na caixinha?
Também veio o urso, o cavalo, o galo, o touro, o bode, o lobo, ... nem sei quantos mais.
A todos Dona Baratinha disse não.
Já estava quase desistindo de encontrar aquele com quem iria se casar.
Foi então que percebeu alguém pulando, exausto de tanto gritar: "Eu quero! Eu quero!"
- Ah! Achei alguém de quem eu não tenho medo! E é tão bonitinho! - disse a Dona Baratinha. Enfim, podemos nos casar!
Então, preparou a festa de casamento mais bonita, com novas roupas, enfeites e, principalmente, comidas.
Essa era a parte que o Ratinho mais esperava: a comida.
O cheiro maravilhoso do feijão que cozinhava na panela deixava o Ratinho quase louco de fome. Ele esperava, esperava, e nada de chegar a hora de comer.
Já estava ficando verde de fome!
Quando o cozinheiro saiu um pouquinho de dentro da cozinha, o Ratinho não aguentou:
- Vou dar só uma provadinha na beirada da panela, pegar só um pedacinho de carne do feijão, e ninguém vai notar nada...
Que bobo! A panela de feijão quente era muito perigosa, e o Ratinho guloso não devia ter subido lá: caiu dentro da panela de feijão, e nunca mais voltou.
Dona Baratinha ficou muito triste que seu casamento tenha acabado assim.
No dia seguinte, decidiu voltar à janela novamente e recomeçar a cantar, mas...
Desta vez iria prestar mais atenção em tudo o que era importante para ela, além do barulhão, é claro!
Quem quer casar com a Dona Baratinha, que tem fita no cabelo e dinheiro na caixinha?
João e o pé de feijão
Há muitos e muitos anos existiu uma viúva que tinha um filho chamado João.
João e a mãe eram muito pobres e, para se manterem, contavam apenas com uma vaca, cujo leite vendiam na cidade.
Um dia, porém, a vaca parou subitamente de dar leite, e a pobre mulher, tendo perdido assim a fonte de seu sustento, ficou preocupada e sem saber o que fazer.
João, de sua parte, começou a procurar um emprego, com o qual pudesse ajudar a mãe. Mas os dias foram passando sem que ele arranjasse coisa alguma para fazer. Assim, a única solução que encontraram foi vender a vaca, pois o dinheiro daria pelo menos para viverem por algum tempo.
João logo se ofereceu para ir vender o animal na cidade, mas a mãe, achando que ele não saberia negociar, a princípio não consentiu. Entretanto, porque ela própria poderia sair de casa naquele dia, não teve outro remédio senão concordar com a idéia. Amarrou então uma corda no pescoço da vaca, para que João não a perdesse e, depois de dar muitos conselhos ao filho, deixou-o partir.
E lá se foi João, com destino à cidade.
Quando estava no meio do caminho, encontrou um vendedor ambulante que o cumprimentou muito simpático e perguntou-lhe aonde estava indo com a vaca.
Assim que João contou que estava indo vendê-la na cidade, o homem tirou do bolso um punhado de feijões, muito bonitos e de cores e formatos variados, e mostrou-os ao menino, dizendo que eles eram encantados.
João ficou deslumbrado com a beleza dos grãos e, ao ouvir as palavras do vendedor, seus olhos brilharam de alegria. Morrendo de vontade de possuir os feijões encantados, perguntou ao homem se ele não gostaria de trocá-los pela vaca.
O vendedor concordou prontamente com a troca. E, horas depois, João chegava em casa muito satisfeito, achando que havia feito um excelente negócio.
A mãe o recebeu muito contente, mas, quando o menino lhe mostrou o que havia conseguido em troca do animal, ficou furiosa e disse:
— Como, meu filho?! Você teve coragem
de trocar a única coisa que possuíamos por
uma porcaria duns grãos de feijão?
E, quanto mais pensava na situação difícil em que ela e o filho estavam agora, mais nervosa ficava. Até que, num acesso de raiva, jogou os feijões pela janela, gritando:
— Veja, seu tolo! Veja para o que ser
vem seus grãos encantados: para jogar fora!
O pobre menino, desconsolado, ficou olhando para a mãe sem nada conseguir dizer. E, como castigo, naquela noite foi mandado para a cama sem jantar.
Na manhã seguinte, ao acordar, João ainda estava muito triste e não conseguia esquecer o acontecimento do dia anterior. Estava deitado, tentando encontrar um jeito de remediar o que havia feito, quando notou que havia alguma coisa impedindo o sol de entrar pela janela. Levantou-se para espiar o que era e, espantado, descobriu que os grãos de feijão não só haviam brotado durante a noite, como também haviam crescido assustadoramente, transformando-se numa planta enorme, que subia até o céu.
Admirado e feliz, o menino correu até o quintal e, sem pensar duas vezes, começou a subir pelo pé de feijão. Subiu, subiu e subiu; atravessou muitas camadas de nuvens macias como flocos de algodão e, por fim, descobriu que a planta terminava num estranho país, onde tudo parecia deserto.
Como queria saber onde estava, João resolveu andar para ver se encontrava alguém por ali. Mas o lugar parecia completamente desabitado, pois, mesmo andando horas em seguida, não viu ninguém pelo caminho. Porém, quando já estava escurecendo e o seu estômago até doía de fome, João avistou um enorme castelo para onde se dirigiu. Encontrou na porta uma mulher que pareceu muito assustada em vê-lo ali.
— O que você está fazendo aqui, menino? — disse ela. — Não sabe que esse castelo pertence ao meu marido, um gigante muito mau, devorador de carne humana?
Ao ouvir isso, João sentiu as pernas bambearem de medo. Mas, como a mulher lhe dissesse que o gigante estava fora, caçando, e também como a fome e o cansaço não o deixassem andar mais, pediu a ela que o abrigasse e escondesse até o dia seguinte.
Embora fosse casada com um homem tão mau, a esposa do gigante era uma pessoa muito bondosa. Assim, ficou com muita pena do menino e levou-o para dentro do castelo, onde serviu-lhe uma mesa coberta de coisas deliciosas. João, que estava morto de fome, comeu tudo com tanto apetite e gosto que logo se esqueceu do perigo que estava correndo. De repente, porém, ouviu-se um grande barulho na porta, seguido de passos tão pesados que o castelo inteiro estremeceu.
_ Oh, meu Deus! — disse a mulher, tremendo como vara verde. — É o gigante, menino ! Ele não pode encontrar você aqui senão vai devorar você e a mim também!
Ao vê-la tão assustada, João ficou paralisado de medo. Mas a mulher o puxou rapidamente pela mão, e mal teve tempo de escondê-lo dentro do forno, antes que o gigante entrasse na cozinha, gritando com sua voz de trovão:
— Mulher! Mulher, estou sentindo cheiro de carne humana!
Um, dois e três,
diga-me de uma vez:
onde está esse abelhudo?
Vou comê-lo com ossos e tudo!
Mais que depressa, a mulher explicou que o cheiro de carne era dos franguinhos que ela havia matado para o jantar.
João, que estava espiando por uma frestinha do forno, ficou apavorado só de pensar no que aconteceria se o gigante o encontrasse. Mas a bondosa mulher, que sabia que o marido era muito comilão, apressou-se em servir a comida, antes que ele começasse a procurar por todos os cantos da casa até encontrar o pobre menino.
O gigante sentou-se então à mesa e, para começar a refeição, engoliu uma dúzia de frangos assados, com ossos e tudo. Com os olhos arregalados, João assistiu à mulher trazendo para a mesa pratos e mais pratos, que o gigante engolia rapidamente, sem nunca ficar satisfeito.
Quando acabou finalmente sua refeição, o comilão gritou para a mulher:
— Traga-me o dinheiro!
— Está bem! — respondeu ela, saindo da cozinha.
E, logo em seguida, voltava com dois sacos cheios de moedas de ouro. Depois de ordenar que a mulher fosse dormir, o gigante colocou os sacos de moedas sobre a mesa e começou a contá-las, enquanto esperava o sono chegar.
Quando se cansou desse divertimento, guardou as moedas de novo nos sacos e depois colocou-os no chão, perto de si. Só que, por precaução, amarrou ao pé da mesa um cão de guarda, e depois recostou-se na cadeira e pôs-se a dormir.
João, que a tudo assistia de seu esconderijo, esperou que o gigante estivesse dormindo profundamente e, quando viu que ele estava roncando como um trovão, saiu de mansinho do forno para roubar o dinheiro. Entretanto, assim que pôs as mãos sobre os sacos de moedas, o cão de guarda começou a latir feito louco e o pobre menino, apavorado, julgou-se completamente perdido.
Acontece que o gigante tinha um sono pesado demais e os latidos fizeram apenas com que ele se mexesse na cadeira, sem conseguir acordá-lo.
Mais sossegado, o menino subiu na mesa da cozinha e, depois de pegar um pedação de carne, jogou-o ao cão, que abanou o rabo e ficou em silêncio, deliciando-se com o petisco.
João pôde assim pegar o dinheiro e fugir dali. Correu sem parar até alcançar o pé de feijão, descendo habilmente até chegar ao quintal de casa.
Em seguida, chamou pela mãe e, depois de contar-lhe toda a aventura, entregou-lhe os dois sacos de moedas.
Corri o dinheiro roubado do gigante, João e a mãe passaram a levar uma vida de rei. Nada mais faltava na casa e eles não precisavam mais temer a fome e a necessidade.
Mas o tempo foi passando e os sacos de moedas começaram a ficar vazios. E João pensou, então, em voltar ao castelo do gigante, para se apoderar de mais riquezas.
Contou sua vontade à mãe e ela, com medo de que alguma coisa pudesse acontecer-lhe, proibiu-o de ir.
— Já pensou se o gigante agarrar você? — disse ela. — E a mulher dele? Ela certamente o reconhecerá e poderá entregá-lo ao marido!
Percebendo que a mãe não ia mesmo permitir, João fingiu aceitar o que ela dizia. Mas, na primeira chance que teve, saiu escondido e subiu novamente pelo pé de feijão, desta vez muito bem disfarçado para que a mulher do gigante não o reconhecesse.
Chegou assim mais uma vez ao estranho país e, depois de caminhar até o anoitecer, avistou o castelo do gigante, na porta do qual encontrou novamente a boa mulher.
— Menino! — disse ela, sem reconhecer João. — O que você faz aqui? Não sabe que esse castelo é do meu marido, um gigante muito mau, devorador de carne humana?
João fingiu-se muito assustado, e pediu à mulher que o escondesse até o dia seguinte, dizendo que não conseguiria encontrar o caminho de casa no escuro.
— Ah, não! — respondeu ela. — De jeito nenhum! Da última vez que fiz isso me arrependi amargamente! Já dei abrigo a um menino como você e o mal-agradecido fugiu, levando dois sacos de moedas de ouro do meu marido. Por causa disso, quase fui devorada no lugar do malandrinho! E o gigante, desde então, tem estado com um humor terrível, que eu sou obrigada a suportar!
Mas João sabia ser convincente e pediu tantas vezes que a boa mulher acabou concordando em escondê-lo. Assim, levou-o para dentro do castelo e deu-lhe de comer e de beber. E, novamente, mal teve tempo de esconder João, desta vez dentro de um quartinho de despejo, e o gigante já chegava, com seu andar tão pesado que fazia o castelo estremecer. Dali a pouco, ele já estava na cozinha, gritando com voz de trovão:
— Um, dois e três.
Cheiro de gente outra vez! Onde está esse abelhudo? Vou comê-lo com ossos e tudo!
Enquanto dizia isso, o gigante procurava por todos os cantos da casa.
João, que a tudo assistia pela fechadura da porta, ficou morrendo de medo de ser encontrado. Mas a bondosa mulher mais uma vez convenceu o marido de que não havia ninguém na casa e, enchendo a mesa de comida, conseguiu distraí-lo.
Novamente o gigante comeu até se fartar e depois disse à mulher:
— Mulher, traga-me a galinha!
Ela, como da outra vez, obedeceu às ordens e saiu da cozinha, para voltar logo depois, trazendo uma galinha viva. O gigante colocou a galinha sobre a mesa e, assim que a mulher se retirou, ordenou:
— Bote!
E João viu, espantado, a galinha botar um ovo que não era nem branco e nem igual aos das galinhas comuns, e sim de ouro, ouro puro e maciço!
— Bote outro! — ordenou o gigante.
E a galinha obedeceu. Assim aconteceu sucessivamente, até que a mesa da cozinha ficou repleta de ovos de ouro, bonitos e reluzentes.
De repente, o gigante se cansou de mandar a galinha botar os ovos e, debruçando-se sobre a mesa, caiu, logo em seguida, num sono profundo.
Quando ouviu o gigante roncando outra vez como um trovão, João saiu em silêncio de seu esconderijo. E, como desta vez não havia nem o cão de guarda para atrapalhar, foi muito fácil agarrar a galinha e fugir correndo do castelo, até chegar ao pé de feijão.
Logo que entrou em casa, João chamou a mãe e, depois de lhe contar a sua aventura, entregou-lhe a galinha dos ovos de ouro.
Daquele dia em diante, nada mais lhes faltou, pois, sempre que precisavam de alguma coisa, bastava ordenar à galinha que botasse um ovo, e ela obedecia prontamente.
Mesmo sendo agora rico e feliz, João voltou a ter vontade de subir outra vez ao castelo do gigante. Mas, sempre que falava nisso, a mãe o repreendia tão severamente, que o menino acabava adiando a viagem, sem entretanto desistir da idéia.
Passaram-se assim três anos, no final dos quais João tomou uma decisão: ia subir de novo, custasse o que custasse, e não contaria nada à mãe.
Assim, esperou pacientemente que chegasse o verão, quando os dias são mais longos e, depois de se disfarçar muito bem, subiu pelo pé de feijão antes que o sol nascesse, para que a mãe não o visse.
Novamente chegou ao castelo numa hora em que o gigante não estava, e mais uma vez não foi reconhecido pela mulher, que voltou a falar-lhe dos perigos que corria estando ali. Só que, desta vez, foi muito mais difícil convencê-la a recolher um estranho em seu castelo, pois o gigante, depois do último roubo, estava com um humor insuportável e cada dia se tornava mais malvado.
João, porém, sabia que a mulher era muito bondosa e continuou insistindo até que conseguiu convencê-la. Foi então acolhido, e de novo lhe foi servida uma refeição deliciosa.
Mas nesse dia o gigante chegou tão repentinamente que a mulher só teve tempo de colocar João dentro de um caldeirão, antes que o marido entrasse na cozinha gritando:
— Mulher! Sinto cheiro de carne humana!
Um, dois e três,
diga-me de uma vez:
onde está o abelhudo?
Vou comê-lo com ossos e tudo!
E estava tão furioso e desconfiado, que começou a procurar por todos os cantos, sem nem ouvir a esposa chamando-o para o jantar.
Procurou, procurou e procurou até que, finalmente, chegou bem perto do caldeirão onde João estava escondido. Ao ouvir aqueles passos que faziam o chão tremer e aquela voz de trovão gritando furiosamente, o pobre menino achou que estava mesmo perdido. Por sorte, entretanto, o gigante sentiu uma fome repentina e ficou com preguiça de levantar a tampa do caldeirão. Por isso, desistiu de procurar e gritou:
— Mulher! Quero jantar!
Dentro de seu esconderijo, João suspirou aliviado. E ali ficou bem quietinho, esperando que o comilão fizesse sua interminável refeição.
Quando, afinal, estava satisfeito, o gigante gritou para a mulher:
— Traga-me a harpa de ouro!
E ela, como sempre fazia, obedeceu-lhe prontamente. O gigante esperou que ela se retirasse para dormir, depois colocou o instrumento sobre a mesa e ordenou:
— Toque!
No mesmo instante, a harpa de ouro começou a tocar sozinha uma melodia doce e suave, que deixou João maravilhado e que embalou os sonhos do malvado gigante. Assim, o menino esperou até que ele estivesse roncando bem alto, saiu em silêncio do caldeirão e correu na direção do valioso instrumento.
Acontece que a harpa era encantada e, ao sentir que mãos estranhas a tocavam, começou a gritar com uma voz fininha:
— Socorro! Socooorro!
E o gigante, ou porque não estivesse dormindo ainda, ou porque gostasse muito da harpa, acabou acordando. Ao ver que estava sendo roubado, levantou-se da cadeira, gritando, furioso:
— Ah, seu maldito! Desta vez você me paga! Quando eu o pegar, vou engoli-lo vivo, com ossos e tudo!
Disse isso e veio direto em cima do pobre João, que, muito assustado, começou a correr até não poder mais. A harpa de ouro, por sua vez, continuava gritando, com sua vozinha fina:
— Socorro, meu senhor! Estão me roubando !
E João, ao ouvi-la falar, corria mais ainda, achando que o gigante o estava alcançando.
De repente, no entanto, João percebeu que havia já alguns minutos não ouvia mais os urros e o barulho dos passos de seu perseguidor. Intrigado, virou-se para trás e descobriu uma coisa que o deixou muito feliz: o gigante, embora fosse grande e forte, já estava velho e não conseguia correr muito.
Mesmo assim, ainda havia um longo caminho para chegar ao pé de feijão, e por isso o menino agarrou de novo a harpa, que não parava de gritar por socorro, e continuou a correr.
Horas depois, alcançou de novo seu pé de feijão e começou a descer. Quando estava já no meio da haste da imensa planta, porém, João olhou para cima e viu que o gigante, por ser muito pesado, descia numa rapidez incrível. Assim, logo que avistou o quintal de casa, o menino começou a gritar pela mãe:
— Mamãe, mamãe! Traga-me um machado, depressa!
Quando João pôs os pés no chão, a mãe já se preparava para dar os primeiros golpes na planta. Mas a viúva, ao olhar para cima e ver o tamanho do gigante, ficou paralisada de medo.
João estava muito cansado, mas conseguiu reunir todas as suas forças e, apossando-se do machado, golpeou várias vezes o pé de feijão. Tendo sido cortada a planta, o gigante despencou lá do alto, caindo ao chão com um grande estrondo. Era tão pesado que | seu corpo, ao cair, fez uma cratera enorme, que demorou muitos anos para fechar.
Livre do perigo que o ameaçava, João nbraçou a mãe alegremente. E, desde aquele dia, os dois passaram a viver tranqüilos.
Tempos depois, quando se tornou um homem forte e bonito, João se casou com uma princesa, com quem viveu feliz por muitos e muitos anos.
Quanto ao pé de feijão, depois de cortado, secou completamente e, como não havia mais sementes, nunca mais nasceu outro igual.
João e Maria
Às margens de uma extensa mata existia, há muito tempo, uma cabana pobre, feita de troncos de árvore, na qual morava um lenhador com sua segunda esposa e seus dois filhinhos, nascidos do primeiro casamento. O garoto chamava-se João e a menina, Maria.
A vida sempre fora difícil na casa do lenhador, mas naquela época as coisas haviam piorado ainda mais: não havia comida para todos.
— Minha mulher, o que será de nós? Acabaremos todos por morrer de necessidade. E as crianças serão as primeiras…
— Há uma solução… — disse a madrasta, que era muito malvada. — Amanhã daremos a João e Maria um pedaço de pão, depois os levaremos à mata e lá os abandonaremos.
O lenhador não queria nem ouvir falar de um plano tão cruel, mas a mulher, esperta e insistente, conseguiu convencê-lo.
No aposento ao lado, as duas crianças tinham escutado tudo, e Maria desatou a chorar.
— Não chore — tranqüilizou-a o irmão — Tenho uma idéia.
Esperou que os pais estivessem dormindo, saiu da cabana, catou um punhado de pedrinhas brancas que brilhavam ao clarão da lua e as escondeu no bolso. Depois voltou para a cama.
No dia seguinte, ao amanhecer, a madrasta acordou as crianças.
As crianças foram com o pai e a madrasta cortar lenha na floresta e lá foram abandonadas.
João havia marcado o caminho com as pedrinhas e, ao anoitecer, conseguiram voltar para casa.
O pai ficou contente, mas a madrasta, não. Mandou-os dormir e trancou a porta do quarto. Como era malvada, ela planejou levá-los ainda mais longe no dia seguinte.
João ouviu a madrasta novamente convencendo o pai a abandoná-los, mas desta vez não conseguiu sair do quarto para apanhar as pedrinhas, pois sua madrasta havia trancado a porta. Maria desesperada só chorava. João pediu-lhe para ficar calma e ter fé em Deus.
Antes de saírem para o passeio, receberam para comer um pedaço de pão velho. João, em vez de comer o pão, guardou-o.
Ao caminhar para a floresta, João jogava as migalhas de pão no chão, para marcar o caminho da volta.
Chegando a uma clareira, a madrasta ordenou que esperassem até que ela colhesse algumas frutas, por ali. Mas eles esperaram em vão. Ela os tinha abandonado mesmo!
- Não chore Maria, disse João. Agora, só temos é que seguir a trilha que eu fiz até aqui, e ela está toda marcada com as migalhas do pão.
Só que os passarinhos tinham comido todas as migalhas de pão deixadas no caminho.
As crianças andaram muito até que chegaram a uma casinha toda feita com chocolate, biscoitos e doces. Famintos, correram e começaram a comer.
De repente, apareceu uma velhinha, dizendo: - Entrem, entrem, entrem, que lá dentro tem muito mais para vocês.
Mas a velhinha era uma bruxa que os deixou comer bastante até cairem no sono e confortáveis caminhas.
Quando as crianças acordaram, achavam que estavam no céu, parecia tudo perfeito.
Porém a velhinha era uma bruxa malvada que e aprisionou João numa jaula para que ele engordasse. Ela queria devorá-lo bem gordo. E fez da pobre e indefesa Maria, sua escrava.
Todos os dias João tinha que mostrar o dedo para que ela sentisse se ele estava engordando. O menino, muito esperto, percebendo que a bruxa enxergava pouco, mostrava-lhe um ossinho de galinha. E ela ficava furiosa, reclamava com Maria:
- Esse menino, não há meio de engordar.
- Dê mais comida para ele!
Passaram-se alguns dias até que numa manhã assim que a bruxa acordou, cansada de tanto esperar, foi logo gritando:
- Hoje eu vou fazer uma festança.
- Maria, ponha um caldeirão bem grande, com água até a boca para ferver.
- Dê bastante comida paro seu o irmão, pois é hoje que eu vou comê-lo ensopado.
Assustada, Maria começou a chorar.
— Acenderei o forno também, pois farei um pão para acompanhar o ensopado. Disse a bruxa.
Ela empurrou Maria para perto do forno e disse:
_Entre e veja se o forno está bem quente para que eu possa colocar o pão.
A bruxa pretendia fechar o forno quando Maria estivesse lá dentro, para assá-la e comê-la também. Mas Maria percebeu a intenção da bruxa e disse:
- Ih! Como posso entrar no forno, não sei como fazer?
- Menina boba! disse a bruxa. Há espaço suficiente, até eu poderia passar por ela.
A bruxa se aproximou e colocou a cabeça dentro do forno. Maria, então, deu-lhe um empurrão e ela caiu lá dentro . A menina, então, rapidamente trancou a porta do forno deixando que a bruxa morresse queimada.
Mariazinha foi direto libertar seu irmão.
Estavam muito felizes e tiveram a idéia de pegarem o tesouro que a bruxa guardava e ainda algumas guloseimas .
Encheram seus bolsos com tudo que conseguiram e partiram rumo a floresta.
Depois de muito andarem atravessaram um grande lago com a ajuda de um cisne.
Andaram mais um pouco e começaram a reconhecer o caminho. Viram de longe a pequena cabana do pai.
Ao chegarem na cabana encontraram o pai triste e arrependido. A madrasta havia morrido de fome e o pai estava desesperado com o que fez com os filhos.
Quando os viu, o pai ficou muito feliz e foi correndo abraça-los. Joãozinho e Maria mostraram-lhe toda a fortuna que traziam nos seus bolsos, agora não haveria mais preocupação com dinheiro e comida e assim foram felizes para sempre.
O Magico de Oz
Doroti vivia numa fazenda com a tia Ema e o tio Henrique. A menina tinha um cãozinho chamado Totó e passava o tempo todo brincando com ele.Um dia, houve uma ventania tão forte que a casa da fazenda foi levada pelos ares. Doroti e Totó, que estavam lá dentro, foram carregados para a terra de Oz.Na terra de Oz havia quatro fadas. Duas eram boas e viviam uma no Norte e outra no Sul. Duas eram más e moravam no Leste e no Oeste. Quando a casa da fazenda caiu no chão, esmagou a Fada Má do Leste e ela morreu.A Boa Fada do Norte agradeceu a Doroti por ter libertado os comilões, que viviam escravizados pela Fada Má do Leste. Depois a Fada ofereceu ajuda a Doroti.”Só o Mágico de Oz pode ajudar você a sair desta terra. Calce os sapatos encantados, que pertenciam à Fada Má do Leste. Depois siga a estrada de tijolos amarelos até a Cidade das Esmeraldas. Lá mora o Mágico de Oz”.Doroti agradeceu e pôs-se a caminho, levando Totó. Logo adiante encontrou um Espantalho pendurado num tronco. Doroti soltou-o e ele disse que queria ter um cérebro para poder pensar. Então Doroti convidou: “Venha comigo. O Mágico de Oz lhe dará um”.Mais adiante, os três encontraram um Lenhador de Lata, que desejava possuir um coração. “Venha conosco até a Cidade das Esmeraldas”, convidou Doroti. “O Mágico de Oz lhe dará um”.Assim, o Lenhador de Lata também seguiu com eles.Logo depois, os quatro encontraram um Leão. Ele rugiu para assustá-los. Totó latiu e o Leão tentou mordê-lo, mas Doroti deu um tapa no nariz do Leão, dizendo: “Que covardia, atacar um cãozinho tão pequeno!” “sou covarde mesmo. Mas bem que gostaria de ser corajoso”, respondeu o Leão. “Venha conosco. O Mágico de Oz dará coragem.”Os cinco amigos viajaram muitos dias pela estrada de tijolos amarelos. Depois de várias aventuras, chegaram ao castelo do Mágico de Oz. Um de cada vez foi levado à sala do trono para falar com ele.O Leão pediu ao mágico que lhe desse coragem. O Lenhador de Lata queria um coração. O Espantalho pediu um cérebro e Doroti queria voltar para a fazenda de seus tios. O Mágico de Oz prometeu atender ao pedido de todos, se eles matassem a Fada Má do Oeste.Os cinco amigos seguiram para o poente. À noite, a fada Má do Oeste enviou seus lobos contra eles, mas o Lenhador de Lata matou todos com seu machado.No dia seguinte a Fada Má do Oeste mandou seus corvos selvagens atacarem Doroti e os amigos. O espantalho enfrentou os corvos e torceu o pescoço de um por um.A Fada Má do Oeste ficou furiosa e chamou seu macacos alados.Eles carregaram Doroti, Totó, o Leão, o Lenhador de Lata e o Espantalho para o castelo da bruxa.A Fada Má do Oeste amassou o Lenhador de Lata e tirou a palha do Espantalho. Depois, prendeu o Leão numa carroça e obrigou-o a trabalhar para ela dia e noite.“Agora vou transformar seu cãozinho num verme”, disse a Fada Má a Doroti.A menina ficou com tanta raiva da Fada Má, que pegou um balde de água e jogou em cima dela.” Socorro!”, gritou a bruxa. “Estou encolhendo!” Era verdade. A água fazia a bruxa diminuir de tamanho. A bruxa foi ficando cada vez menor, até que sumiu.Os Pisca-piscas, escravos da bruxa, agora estavam livres. A pedido da Boa Fada do Sul, eles desamassaram o Lenhador de Lata, rechearam de novo o Espantalho e soltaram o Leão.Doroti e os amigos voltaram ao castelo do Mágico de Oz. O Espantalho ganhou um cérebro, o Lenhador de Lata conseguiu um coração, e o Leão obteve coragem.A Boa Fada do Sul disse a Doroti que ela podia voar com os sapatinhos encantados que a Boa Fada do Norte lhe dera Doroti despediu-se dos amigos e voou para fazenda de seus tios, levando o Totó nos braços
Os musicos de Bremen
Era uma vez um burro que durante muitos anos tinha trabalhado para um moleiro, transportando pesados sacos de grão. Mas agora já estava velho e sem força. O seu patrão, pensando que o burro já não sevia para nada, nunca mais lhe deu de comer. O burro que não queria morrer à fome resolveu fugir.
"Vou para Bremen, a cidade dos músicos!", pensou.
"Já não tenho força para trabalhar, mas posso tocar!"
Ao longo da estrada encontrou um cão que lhe pareceu muito cansado.
"O que te aconteceu?", perguntou-lhe o burro.
"Sou velho e já não posso ir caçar", respondeu-lhe o cão, "por isso o meu patrão quer matar-me!"
"Eu vou para Bremen, vou ser músico", disse-lhe o burro, "vem daí comigo e assim formaremos uma banda!"
A ideia agradou ao cão, que se juntou ao burro, e os dois seguiram caminho para Bremen. Pouco tempo depois, encontraram um gato com os olhos cheios de lágrimas.
"O que te aconteceu?", perguntaram-lhe.
"Sou velho e já não consigo apanhar ratos, por isso a minha dona quer afogar-me!"
"Vem para Bremen connosco", propôs o burro.
"Eu tocarei flauta, o cão tocará tambor e tu ajudarás a fazer serenatas!"
O gato achou a ideia óptima e juntou-se ao cão e ao burro, seguindo com eles para Bremen. Mais adiante, viram um galo que gritava em cima de uma cerca.
"O que te aconteceu?", perguntaram-lhe os três amigos.
Estou a ficar velho e na quinta querem assar-me no forno", contou o galo, aflito.
"Vem para Bremen connosco", propôs-lhe o burro. "Tu tens uma bela voz e nós sabemos tocar. Juntos formaremos uma banda!"
O galo achou a ideia óptima e juntou-se ao cão, ao gato e ao burro, seguindo com eles para Bremen.
Mas a cidade ainda era distante e a noite já começara a cair. Os quatro amigos, cansados e esfomeados, resolveram procurar um lugar para descansar. Junto à estrada, havia uma casa que parecia abandonada, mas tinha uma janela iluminada.
O burro aproximou-se da janela e viu um grupo de ladrões sentados à volta de uma mesa cheia de comida.
Os quatro amigos resolveram, então, inventar um plano.
O cão subiu para o dorso do cavalo, o gato para o pescoço do cão e o galo voou para cima do gato.
Com o burro a comandar, puseram-se todos a cantar a plenos pulmões e, com um salto, entraram na casa, partindo a janela.
Ouvindo aquele terrível estrondo, os ladrões julgavam que lhes tinha aparecido um monstro de quatro cabeças. Fugiram apavorados, deixando para trás a mesa com todas aquelas iguarias!
Os quatro amigos pregaram-lhes uma boa partida. O seu plano resultara na perfeição!
Comeram tanto que não voltaram a pensar na viagem para Bremen e permaneceram felizes e contentes naquela casa abandonada à beira da estrada o resto das suas vidas.
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